Charles M. Blow

Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

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Charles M. Blow

Jovens eleitores americanos estão frustrados com rumos da política nos EUA

Sistema político atual os deixa sem esperança e os força a votar como se estivessem sob ameaça existencial

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The New York Times

Um relatório do Pew Research Center chamou de "desanimadoras" as visões dos americanos sobre nossa política. Essa pode ser uma palavra muito gentil.

Métrica após métrica, o relatório percorreu marcadores de nosso pessimismo persistente. Em 1994, diz, "apenas 6%" dos americanos viam ambos os partidos políticos de forma negativa. Esse número agora mais que quadruplicou para 28%. A porcentagem que acredita que nosso sistema político está funcionando "extremamente ou muito bem": apenas 4%.

E em grande parte, os jovens são os mais frustrados e favoráveis a mudanças disruptivas como solução.

Eleitor durante voto em Detroit, no estado do Michigan - Evelyn Hockstein - 8.nov.22/Reuters

Os eleitores mais jovens reconhecem que nosso sistema político está quebrado e não têm nostalgia por um tempo menos conturbado. Eles quase não têm memória de uma época em que o governo era menos partidário e menos paralisado. Seus instintos são consertar o sistema que herdaram, não voltar atrás no tempo para um passado distante.

De acordo com o Pew, entre os adultos americanos com menos de 30 anos, 70% são a favor de ter um voto popular nacional para presidente, 58% são a favor da expansão da Suprema Corte, 44% são a favor da expansão da Câmara dos Representantes e 45% são a favor de emendar a Constituição para mudar a forma como a representação no Senado é distribuída —números mais altos do que seus colegas mais velhos, especialmente aqueles com mais de 50 anos.

Mas o sistema político americano não foi construído para facilitar mudanças radicais. Sim, nosso sistema político precisa de uma grande reforma, mas tal reforma é quase inconcebível dadas as restrições políticas atuais.

Isso pode ser uma realidade desafiadora quando o idealismo jovem colide com ela.

O nó em que o país se encontra pode ser uma das razões pelas quais o Pew descobriu que os eleitores mais jovens são os menos propensos a acreditar que votar pode ter pelo menos algum efeito na direção futura do país.

E ainda assim, de acordo com uma pesquisa recente com jovens de 18 a 29 anos pelo Instituto de Política da Escola Kennedy de Harvard, eles ainda estão engajados. Como John Della Volpe, diretor de pesquisas do instituto e autor de "Fight: How Gen Z is Channeling Their Fear and Passion to Save America", colocou: "Desde as eleições intermediárias até a recente eleição para a Suprema Corte de Wisconsin, estamos vendo jovens americanos cada vez mais motivados a se envolverem na política por pura autodefesa e responsabilidade de lutar por aqueles ainda mais vulneráveis do que eles mesmos".

Essa postura defensiva é compreensível quando se pensa na era política em que esses eleitores mais jovens cresceram: um período vertiginoso de disfunção, calamidade e ativismo.

Entre os eleitores de 30 a 49 anos, os mais velhos tinham 20 anos em 11 de setembro de 2001. Os eventos daquele dia se transformariam na guerra mais longa da América —20 anos no Afeganistão. Esses eleitores veriam a esperança em torno da eleição de Barack Obama como presidente, mas também a extrema reação contrária à sua eleição que culminaria na de Donald Trump, antítese intelectual e moral de Obama.

Os eleitores de 18 a 29 anos tinham entre pré-adolescência e início dos 20 anos quando Trump foi eleito em 2016. Apenas os mais velhos deles eram elegíveis para votar na época. Os anos de Trump viram um presidente acusado de agressão sexual, abertamente hostil às minorias e desdenhoso dos protestos pelos direitos civis, e que mentiu sem trégua enquanto seus apoiadores repetidamente o desculpavam ou o encobriam.

Os mais velhos desse grupo tinham 19 anos quando Trayvon Martin foi morto em 2012, então eles viveram o nascimento e a evolução do movimento Black Lives Matter e agora estão vivendo a reação a ele.

Os anos de Trump expuseram a incapacidade —a incompetência— de nosso sistema de responsabilizar os líderes e terminaram com uma tentativa de reverter uma eleição e uma invasão do Capitólio.

Esses anos também viram um aumento nos tiroteios em massa e advertências sobre os efeitos das mudanças climáticas se tornando mais graves, duas questões que se tornaram importantes para os eleitores jovens. A revogação da decisão Roe v. Wade, de 1973, que garantia o direito ao aborto, foi o ponto decisivo.

Não é de admirar que os eleitores mais jovens estejam tão frustrados e sedentos por mudança, e não poupam ninguém ao persegui-la.

Embora os eleitores mais jovens sejam mais propensos a ter uma visão favorável dos democratas do que dos republicanos, eles também são mais propensos do que as gerações mais velhas a ter visões desfavoráveis de ambos os partidos. Mais da metade dos americanos com menos de 30 anos disse que geralmente é o caso de que nenhum dos candidatos que concorrem a cargos políticos nos últimos anos representa bem suas opiniões.

Tudo isso sugere uma frustração profunda com a falta de resultados, a profissionalização da política e o incrementalismo e intransigência.

E ainda assim, esse exército frustrado de eleitores ainda pode ter um grande impacto em 2024. O Brookings Institution fez as contas sobre a importância desse grupo de eleitores:

"De acordo com nossas projeções, com base nas estimativas do U.S. Census Bureau, se os americanos com menos de 45 anos (plurais e millennials) votarem na mesma proporção que votaram na eleição presidencial de 2020, eles representarão mais de um terço (37%) do eleitorado de 2024. Se a contribuição dessa geração para o eleitorado na próxima eleição geral presidencial for a mesma que sua contribuição para a população em idade de votar nos EUA, ela comporá quase metade (49%) dos votos em 5 de novembro de 2024."

Nas últimas eleições, os eleitores mais jovens têm votado quase na proporção de dois para um a favor dos democratas. E o Partido Republicano pode estar empurrando mais desse grupo nessa direção, à medida que o partido se mantém firme em posições sociais impopulares para eles.

Mas é uma situação triste que o nosso sistema político atual deixe os jovens sem esperança e otimismo e, em vez disso, os force a votar como se estivessem sob ameaça existencial, independentemente de qual partido se beneficie.

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