Mixuruca. Adjetivo de dois gêneros. De má qualidade; sem valor; barato; pobre; reles; sem atrativos, sem graça; aborrecido; desenxabido; ruim.
Há quem compare as idas e vindas da nossa política com a série americana de ficção “House of Cards”, que mostrava os bastidores da Casa Branca. Só se for na versão mixuruca. Ralé. Bagaceira. Está aí o mais recente pronunciamento à nação do presidente para passar o atestado de insignificância que faltava.
Pronunciamento ou lamento? Nos 45 minutos que só serviram para disparar uma avalanche descontrolada de memes, faltou citar o soco que tomou de um coleguinha no primário. A menina que não quis namorá-lo na segunda série. O autorama que não ganhou em um Natal qualquer.
Um presidente se lamuriando em rede nacional, ocupando o tempo das brasileiras e brasileiros para se fazer de vítima em meio a uma pandemia. Onde está o valentão que ofende mulheres, destrata jornalistas, ameaça os outros poderes? Nem a egípcia que levou do então juiz de Curitiba em um aeroporto ficou de fora. Não podia faltar um coração partido no enredo.
Para justificar a demissão do agora desafeto, evocou mulheres de Araraquara, os crushes do zero quatro, a eletricidade desligada na piscina olímpica aquecida por energia solar, o Queiroz, os filhos sempre perseguidos pela mídia e a ingenuidade da sogra que, em lugar de fazer uma cirurgia plástica, preferiu remoçar dez anos na certidão de nascimento.
Teve até a desfaçatez de se comparar a Marielle Franco —vidas importam, mas a do presidente importa mais. “House of Cards” xexelento.
E o elenco? Dessa vez nosso protagonista se fez acompanhar por um bando de homens brancos inexpressivos, iguais na cara e na roupa.
Cotas: três mulheres para lá de coadjuvantes e um negro na figuração. Brilhando entre os desconhecidos, o chanceler que alertou para o perigo comunista do coronavírus e o astronauta, estrela da propaganda dos travesseiro da Nasa.
Um toque de nonsense, como se precisasse, foi o elogio à atuação do ministro da deseducação. Roubando a cena, Paulo Guedes apareceu de máscara. No futuro, poderá dizer que não era ele naquela foto.
“House of Cards” chinelão é pouco. O que vivemos é um filme de fluxo com roteiro escrito pelo Carlucho e caminhando para o “the end”.
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