Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Descrição de chapéu

Política brasileira é versão mixuruca de 'House of Cards'

O que vivemos é um filme de fluxo com roteiro escrito pelo Carlucho

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Mixuruca. Adjetivo de dois gêneros. De má qualidade; sem valor; barato; pobre; reles; sem atrativos, sem graça; aborrecido; desenxabido; ruim.

Há quem compare as idas e vindas da nossa política com a série americana de ficção “House of Cards”, que mostrava os bastidores da Casa Branca. Só se for na versão mixuruca. Ralé. Bagaceira. Está aí o mais recente pronunciamento à nação do presidente para passar o atestado de insignificância que faltava.

Pronunciamento ou lamento? Nos 45 minutos que só serviram para disparar uma avalanche descontrolada de memes, faltou citar o soco que tomou de um coleguinha no primário. A menina que não quis namorá-lo na segunda série. O autorama que não ganhou em um Natal qualquer.

Um presidente se lamuriando em rede nacional, ocupando o tempo das brasileiras e brasileiros para se fazer de vítima em meio a uma pandemia. Onde está o valentão que ofende mulheres, destrata jornalistas, ameaça os outros poderes? Nem a egípcia que levou do então juiz de Curitiba em um aeroporto ficou de fora. Não podia faltar um coração partido no enredo.

Ilustração em que bombas saltam de uma caixa com um desenho de boi na frente
Ilustração de Cynthia Bonacossa para coluna de Claudia Tajes em 27 de abril - Cynthia Bonacossa

Para justificar a demissão do agora desafeto, evocou mulheres de Araraquara, os crushes do zero quatro, a eletricidade desligada na piscina olímpica aquecida por energia solar, o Queiroz, os filhos sempre perseguidos pela mídia e a ingenuidade da sogra que, em lugar de fazer uma cirurgia plástica, preferiu remoçar dez anos na certidão de nascimento.

Teve até a desfaçatez de se comparar a Marielle Franco —vidas importam, mas a do presidente importa mais. “House of Cards” xexelento.

E o elenco? Dessa vez nosso protagonista se fez acompanhar por um bando de homens brancos inexpressivos, iguais na cara e na roupa.

Cotas: três mulheres para lá de coadjuvantes e um negro na figuração. Brilhando entre os desconhecidos, o chanceler que alertou para o perigo comunista do coronavírus e o astronauta, estrela da propaganda dos travesseiro da Nasa.

Um toque de nonsense, como se precisasse, foi o elogio à atuação do ministro da deseducação. Roubando a cena, Paulo Guedes apareceu de máscara. No futuro, poderá dizer que não era ele naquela foto.

“House of Cards” chinelão é pouco. O que vivemos é um filme de fluxo com roteiro escrito pelo Carlucho e caminhando para o “the end”.

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