Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

Tendências que vão mudar o jeito como vivemos nas cidades

Modelo urbano deverá incorporar calçadas largas e arborizadas, com espaço para bicicletas

As cidades foram e continuam sendo um organismo vivo, em constante evolução. A diferença é que, nos dias atuais, os vetores sociais, tecnológicos e ambientais ganharam outra dimensão, tornando menos previsíveis os efeitos dos modelos conhecidos de planejamento.

As diferenças de renda distorcem a ocupação espacial do espaço urbano. Os níveis assustadores de poluição fazem com que procuremos a tecnologia para atenuar esses impactos, e as mudanças climáticas nos conscientizam sobre a necessidade de cidades mais resilientes.

Os conceitos trazidos pelo urbanista Jan Gehl, em seu livro “Cidades para pessoas”, estão cada dia mais presentes no planejamento urbano, que não deverá ser direcionado pelos carros de forma tão intensa, mas pela pedestrianização dos deslocamentos.

Os modelos de planejamento deverão ser voltados para o pedestre, com ruas mais estreitas e calçadas mais largas em regiões com maior adensamento populacional, e com os edifícios mais próximos da rua e uns dos outros.

Isso deve vir acompanhado da indução para que se implantem serviços e comércio de conveniência, a curtas distâncias dos principais núcleos de moradia. Muito verde ao longo das vias e espaço para ciclistas também darão a tônica das mudanças.

Por outro lado, como as pessoas passam grande parte do seu tempo dentro dos edifícios, especial atenção deve ser direcionada para o impacto na saúde dos espaços relacionados ao trabalho, estudo e lazer. Segundo a NHAPS - The National Human Activity Pattern Survey, as pessoas passam 86,9% de sua vida no interior de edificações. Dessa forma, o projeto dos edifícios deverá considerar especificamente esses aspectos.

Pesquisas conduzidas pelo centro de Edifícios Saudáveis da Universidade de Harvard, nos EUA, mostram que, em edifícios verdes, com ventilação melhorada e condições térmicas ideais, os usuários tiveram o aumento de 26% nos testes de função cognitiva e apresentaram menos sintomas relacionados aos chamados “edificios doentes”, como dores de cabeça e problemas respiratórios. Maior exposição à luz natural também foi associada à melhoria da qualidade de sono.

A utilização de algoritmos –sequência de raciocínios ou operações que, aplicadas a uma base de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas– também deve mudar a forma de planejamento da vida nas cidades.

Pesquisadores das melhores universidades do mundo estão usando a inteligência artificial para melhor estruturar algumas teorias urbanísticas complexas, analisando dados sobre as cidades e procurando conhecer mais profundamente suas características e composição.

Desde sensores que monitoram níveis de poluição, fluxos de tráfego e números populacionais em uma cidade, até tecnologias que permitem aos usuários coletar dados sobre fatores ambientais e de saúde. A influência desse modelo sobre a forma de trabalhar de planejadores e formuladores de políticas urbanas é evidente.

As habitações chamadas de multigeração, onde dois ou mais adultos de gerações diferentes vivem juntos, devem ganhar impulso significativo. Nos Estados Unidos, existem mais de 60 milhões de lares multigeracionais e espera-se que esse número aumente como resultado de uma maior imigração associada à falta de moradia acessível, ou mesmo como escolha de estilo de vida.

Outra tendência importante é a implantação, em maior velocidade, dos edifícios projetados para o “balanço zero de energia”, ou seja, onde a edificação origina toda energia que consome utilizando modelos de produção de energia renovável implantados no próprio edifício.

O futuro chegou para as cidades. Aquelas que não estiverem atentas à necessidade de mudanças na orientação de seu desenvolvimento estarão fadadas ao insucesso.​

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