Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Planejando a sonoridade urbana

Equilíbrio entre ruídos naturais e produzidos pelo homem traz benefícios à qualidade de vida nas cidades

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A superexposição e a diversidade das impressões sonoras a que estamos submetidos nas áreas urbanas, de certa forma, nos têm levado a subestimar a importância dessa questão nas cidades. A busca do equilíbrio entre os sons naturais e aqueles produzidos pelo homem pode ser a chave para uma ecologia acústica harmônica, com benefícios evidentes para a qualidade de vida urbana.

Para enfrentar os desafios com o aumento da exposição às mais diversas formas de ruído, é necessária uma nova prática de planejamento da sonoridade nas cidades. Para tanto, é necessário estarmos cientes de que somos nós os compositores de parte dessa incrível “sinfonia urbana”.

No planejamento da ambiência acústica, diferentes desafios sonoros implicam em diferentes abordagens. Dessa forma, é importante compreender, por exemplo, a percepção humana dos sons ambientes, a influência das áreas verdes, as fontes de sonoridade, e a possível relação que possa haver entre todos esses aspectos.

A barulhenta Marginal Tietê, em São Paulo
A barulhenta Marginal Tietê, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Pesquisadores observaram que a percepção da ambiência urbana é multissensorial, e especialmente a visão está relacionada às sensações auditivas. Portanto, essa interação tem importantes efeitos na percepção sonora. Por exemplo, o efeito de barreiras sonoras não somente reduz o barulho para o pedestre, como também esconde a origem do som, e seu projeto visual pode melhorar a percepção da ambiência como um todo.

O planejamento da sonoridade urbana deve ser sinérgico com outros processos de planejamento, e de maneira uniforme. Isso pode ser conseguido melhorando a qualidade sonora dos ambientes urbanos, não apenas tentando torná-los mais silenciosos, mas projetando-os proativamente para evitar a geração de ruído, e definindo políticas e estratégias para valorizar e preservar as características ambientais do ponto de vista dos sons produzidos e absorvidos.

Os sons produzidos pelo homem não são parâmetros isolados, mas o resultado do uso e de atividades desenvolvidas em determinado espaço. Estão ligados, portanto, a outros fatores de planejamento. Decisões sobre o tráfego afetam a magnitude e a origem de ruídos; o zoneamento determinará quais usuários serão afetados por essa emissão sonora, e assim por diante.

O planejamento associado ao projeto de sonoridade urbana poderá permitir que as pessoas sentem num parque para ler um livro sem serem perturbadas pelo barulho do tráfego; descansar em casa sem perceber altos níveis de ruído vindos do exterior etc. Contudo, será extremamente difícil atingir esse objetivo, a menos que um plano cuidadoso do ambiente sonoro seja incluído no processo de planejamento urbano. Sem essa cautela, é muito provável que, para mitigar o ruído e aumentar a qualidade sonora da região, sejam necessárias medidas corretivas, como janelas à prova de ruído, barreiras sonoras padrão, e subutilização de espaços devido à sua alta exposição ao barulho.

Pesquisadores têm usado diferentes metodologias para qualificar a chamada paisagem sonora. Uma vez quantificadas, e qualificado o perfil das fontes de sons naturais ou artificiais, por meio da utilização de georreferenciamento, é preparado um mapa das origens de sons dominantes, organizadas mediante pontuações individuais, o que gera uma superfície sonora extremamente útil para ser cotejada com outros parâmetros, por ocasião do planejamento urbano, e tomada de decisões estratégicas.

Os responsáveis pelas estratégias de desenvolvimento das cidades devem conscientizar-se da importância de incorporar aspectos de qualidade acústica no processo de concepção como uma ação evidente, não só para enriquecer os modelos de planejamento urbano, mas para obter resultados mais efetivos na melhoria da qualidade de vida.

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