Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Conservar a biodiversidade nas cidades é necessário e possível

O primeiro passo, segundo pesquisadores, é identificar e priorizar a proteção de áreas tanto atuais quanto potenciais

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O urbanista dinamarquês Jan Gehl vem, ao longo dos últimos 50 anos, mudando a forma de pensar o planejamento das cidades, redirecionando o conceito modernista da separação de usos para a abordagem de uma escala humana, fortalecendo o conceito de cidades para pessoas.


Entretanto, à medida que aumenta o número de pessoas vivendo em áreas urbanas, e a expansão das cidades avança sobre espaços e processos naturais, faz-se necessário considerar, nos modelos de planejamento, outras espécies com as quais os seres humanos partilham os espaços urbanos.

Um grupo de pesquisadores liderados por Kirsten M. Parris, da Universidade de Melbourne, na Austrália, publicou trabalho contendo diretrizes para a incorporação dos modelos de conservação da biodiversidade no planejamento da ambiência urbana.

O primeiro princípio para atingir esse objetivo, segundo os pesquisadores, é identificar e priorizar a proteção de áreas —tanto atuais quanto potenciais— com maior biodiversidade, dentro e ao redor das cidades. Embora as áreas com menor biodiversidade também sejam valiosas, não se pode preservar tudo nas ambiências urbanas em função das necessidades diversas de ocupação, e deve-se concentrar esforços, em primeiro lugar, nas áreas onde há mais a se perder.

Manter ou restabelecer a conectividade entre áreas de habitat natural para permitir o movimento de animais ou de pólen e sementes de plantas, por meio da paisagem urbana, é outra diretriz importante. Essa movimentação é fundamental para a manutenção da diversidade genética e para a existência, a longo prazo, de populações e comunidades ecológicas diversas.

O desenvolvimento urbano pode resultar em uma extensa perda de habitat natural e em uma redução na necessária complexidade estrutural do habitat de muitas espécies da fauna e da flora. Portanto, é importante planejar a construção de espaços com características ecológicas que possam fornecer habitat para uma grande variedade de espécies vegetais e animais, e sejam capazes, consequentemente, de reter a biodiversidade.

Um aspecto frequentemente esquecido da ecologia urbana ressaltado pelo estudo é a importância da adequada disposição da infraestrutura construída. Ela pode ter efeitos adversos óbvios sobre a biodiversidade, aumentando a mortalidade, por exemplo, pelas colisões de veículos com animais ou pássaros batendo nas janelas de edifícios.

Mas, em muitos casos, os impactos negativos são mais sutis. A luz artificial à noite pode interferir nos ciclos biológicos, nos padrões de sono e na navegação dos animais, enquanto o ruído urbano pode dificultar a comunicação entre eles. Embora, nos últimos anos, tenham sido envidados esforços para construir infraestrutura urbana ecologicamente correta, principalmente melhorando eficiência energética e hídrica, os códigos de construção "verdes" não consideram nem propiciam benefícios para a biodiversidade.

Para que a biodiversidade sobreviva e se amplie em ambientes urbanos, argumentam os pesquisadores, é necessário serem reconhecidas como habitats importantes as novas áreas que dão suporte às comunidades ecológicas, mesmo que suas condições bióticas e abióticas possam ser diferentes daquelas dos ecossistemas remanescentes.

A biodiversidade urbana existe não apenas em reservas e parques, mas também em ecossistemas como jardins e parques privados. Novas comunidades ecológicas e novos ecossistemas podem ser caracterizados pela presença de novas combinações de espécies nativas e exóticas, mesmo sem histórico análogo.

Ações como essas, que podem aumentar e preservar a biodiversidade nas cidades, envolvem planejadores, arquitetos, paisagistas, engenheiros, gestores públicos, naturalistas, cientistas, empresários e o público em geral. Se todos se conscientizarem da necessidade de conservar a biodiversidade nas cidades, e usarem adequadamente as ferramentas disponíveis, perceberão que esta é uma ação, além de extremamente desejável, absolutamente possível.

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