Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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O fenômeno das cidades que estão encolhendo

Sucesso no enfrentamento à retração está relacionado à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos remanescentes

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O encolhimento urbano tem ocorrido ao longo da história das cidades, e acontece simultaneamente com a perda de população, declínio econômico, decadência de bairros e outras mudanças profundas nos espaços urbanos e no ambiente construído.

Esse retrocesso no desenvolvimento urbano ocorre por três motivos principais. Em primeiro lugar, quando a taxa de fecundidade cai para valores inferiores a 2,1, a população total começa a declinar. Em segundo lugar, os empregos em diferentes setores, como manufatura e mineração, começam a desaparecer. Por fim, algumas cidades perdem residentes devido ao esgotamento de recursos ou a mudanças tecnológicas.

Esse fenômeno tem ocorrido de forma significativa e com consequências negativas na Europa, América do Norte, Ásia e outras partes do mundo.

No Reino Unido, o encolhimento de cidades ocupou as manchetes em abril de 2021. O Centro de Excelência em Estatísticas Econômicas relatou que mais de 700 mil residentes deixaram Londres somente em 2020, representando o maior declínio populacional desde a segunda guerra mundial.

Pesquisadores americanos têm apontado que milhões de pessoas deixaram cidades nos últimos dez anos. Decatur, no estado de Illinois, foi a terceira cidade em declínio, com retração populacional de 7,1% entre 2010 e 2019. No mesmo período, Jackson, capital do Mississippi, teve um declínio populacional de 7,4%, e Charleston, no West Virginia, teve uma perda de 9,4%, na sua população.

Mais de 900 cidades estão diminuindo na China, e a maioria delas no Nordeste do país, com população idosa crescente, queda na taxa de natalidade e rápido declínio na proporção de jovens.

As cidades industriais da América do Norte e da Europa, que cresceram no século 19, diminuíram nas décadas de 1960 e 1970. Os trabalhos de manufatura passaram a ser feitos no exterior e as tecnologias ficaram obsoletas. A população de Detroit, por exemplo, caiu de 1,8 milhão, em 1950, para 700 mil agora. Esta é uma situação extrema, mas grande parte das cidades em antigas regiões industriais percebeu algum declínio ou estagnação.

As baixas taxas de fertilidade e envelhecimento da população são as principais causas do fenômeno demográfico mais amplo de cidades em declínio. Isso é especialmente aparente no Japão, um país que não apoia políticas de imigração, tem uma taxa de fertilidade de apenas 1,4, e uma população envelhecida que vive principalmente em grandes cidades. Espera-se que haja um declínio populacional de 20 milhões nos próximos 20 anos. O que acontecerá com os bairros, os espaços urbanos e a infraestrutura das cidades permanece uma questão aberta.

Como lidar com esse problema?

A União Europeia afirma que as cidades devem aprender a conceber o desenvolvimento urbano sustentável como um processo cíclico e contínuo de mudanças, ao invés de imaginar que o desenvolvimento socioeconômico é uma progressão linear e previsível do status quo para um futuro melhor. Em muitos casos, são necessários projetos que busquem soluções concretas para cidades cada vez menores.

A investigação do fenômeno tem levado a várias estratégias e abordagens, desde propostas especulativas a políticas urbanas inovadoras. O foco parece tomar duas direções distintas: incorporação da desurbanização, por meio de métodos como redimensionamento e redução inteligente, ou reinvenção da cidade sob novas premissas, muitas vezes por meio das lentes da arte e da cultura, aderindo a políticas de regeneração lideradas pelo turismo.

Histórias de sucesso no enfrentamento à retração urbana estão relacionadas com a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos remanescentes. O processo envolve a identificação de ativos negligenciados, os quais a cidade poderia capitalizar, diminuindo o volume de serviços e, ao mesmo tempo, aprimorando os restantes, ativando a cidadania e alocando usos urbanos provisórios para terrenos vazios.

As circunstâncias que envolvem o encolhimento das cidades são complexas e variam amplamente, sendo difícil apontar uma série bem definida de práticas para lidar com o declínio urbano. Enfrentar esse fenômeno requer um afastamento dos modelos de planejamento tradicionais, o que significa pesquisar e desenvolver modelos que possam abordar de forma sustentável as cidades em declínio.

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