Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Descrição de chapéu Mobilidade

Crono urbanismo como diretriz de planejamento

É preciso repensar a relação entre a cidade e seus usuários em termos de tempo e espaço

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E se passássemos a medir as distâncias nas cidades em minutos, e não mais em metros ou quilômetros?

O "tempo", de forma geral, tem sido negligenciado nas reflexões sobre planejamento e desenvolvimento das cidades, em prol de reflexões sobre a infraestrutura e políticas sociais. Muitos estudos sobre planejamento urbano se concentram no espaço, mas poucos no tempo, ou nas relações espaço-temporais.

É preciso repensar a relação entre a cidade e seus usuários em termos de tempo e espaço, ou seja, estruturar modelos de pensamento que reflitam o urbanismo baseado nas distâncias medidas em escalas de tempo. Da mesma forma, cabe pensar em um "urbanismo temporal", que incidiria nos modos parciais de ocupação do espaço e do tempo na cidade. A visão temporal do espaço pode implicar na previsão de múltiplos usos para um mesmo lugar, de acordo com a hora do dia, permitindo maior flexibilidade e adaptabilidade às necessidades urbanas.

Trânsito em São Paulo na avenida dos Bandeirantes sentido marginal Pinheiros - Rubens Cavallari -16.dez.22/Folhapress

À medida que avança na estruturação da cidade o planejamento voltado para a temporalidade e a mobilidade, um modelo descentralizado de organização passa a ser necessário, para levar em conta "o tempo" no planejamento urbano. Os conceitos que envolvem o crono urbanismo permitiram que fosse desenvolvida a ideia da cidade de 15 minutos, que se tornou popular entre os pensadores urbanos.

Para tanto, são necessárias mudanças na distribuição dos usos do solo, de maneira a conseguir um tecido urbano integrado e compacto, onde a alocação das atividades permita misturar negócios com moradias acessíveis, restaurantes com centros de comércio e serviços, escolas com prédios de escritórios, e todos conectados com o público local, e com os serviços de transporte. Esse mecanismo deve vir acompanhado da flexibilização do uso dos espaços, por meio da possibilidade de transformar áreas urbanas mono funcionais em multifuncionais.

Outro aspecto importante é fortalecer a economia no âmbito da unidade de vizinhança local. Isso envolve promover corredores comerciais ou shopping centers onde possam ser operados comércios e serviços de conveniência, que atendam a nível local múltiplos usuários. Além disso, importante instituir incentivos para que os moradores prefiram fazer compras e utilizar serviços prioritariamente em seu bairro.

Melhorar o espaço público é outra ação importante. Investir em melhorias de infraestrutura para a segurança e conforto de pedestres e ciclistas possibilita ainda integração modal com o transporte público de massa, facilitando conexões com locais de trabalho, estudo, comércio e serviços. Essas ações incluem a melhoria dos espaços públicos existentes e a criação de novos, que possam contribuir para a melhoria da mobilidade e da vida social comunitária.

A relação do crono urbanismo com a mobilidade pode e deve ser explorada de forma mais objetiva. A otimização do uso dos transportes públicos tem sido considerada por meio da avaliação da distância que as pessoas devem percorrer para acessar os eixos de transporte de massa. Entretanto, essa distância pode ser medida não em metros, mas em minutos, explorando-se de forma mais eficiente a relação espaço-temporal existente entre os usuários do transporte público, a posição dos eixos de transporte e a localização de residências ou locais de trabalho. Para efeito de uma mobilidade urbana eficiente, parece mais relevante o tempo que os usuários levariam para acessar as estações de transporte de massa, caminhando ou pedalando, do que efetivamente a distância a ser percorrida.

Começar a pensar em distâncias temporais e não métricas no planejamento das cidades, inicialmente pode parecer estranho, mas o aprofundamento dos estudos nesse sentido mostrará o acerto na mudança de paradigma. A acessibilidade passará, portanto, em muitas situações, a ter importância maior que a própria localização.

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