Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Descrição de chapéu Mobilidade

As mudanças climáticas e a resiliência das cidades

É imprescindível conscientizar gestores sobre a importância de adaptar cidades às mudanças climáticas

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O conceito de resiliência tem sido bastante empregado ultimamente na análise da operação e do funcionamento das cidades, e tem especial importância quando a avaliação envolve riscos oriundos de mudanças climáticas. A resiliência às alterações climáticas urbanas está diretamente ligada à adaptação das cidades a essas mudanças. Isso pode ser conseguido por meio das ações que venham a mitigar riscos de desastres naturais, mas, ao mesmo tempo, reconhecer a complexidade das áreas urbanas em rápido crescimento, e as incertezas associadas a essas mudanças.

Parece não existir uma ação única que tornará uma cidade resiliente às mudanças climáticas. A resiliência será alcançada por meio de várias ações, construídas umas sobre as outras ao longo do tempo. Essas ações podem ser aprimoradas e aperfeiçoadas à medida que as cidades usem o aprendizado com experiências passadas, para tornar mais eficientes as decisões futuras.

Carro em meio a alagamento na Vila Madalena, em São Paulo - Eduardo Knapp - 19.dez.2014/Folhapress

Para a estruturação de modelos exitosos, que consigam tornar as cidades resilientes às mudanças climáticas, é importante ter ciência de que as áreas urbanas mais suscetíveis a choques e estresses oriundos dessas mudanças são aquelas que têm sistemas ecológicos frágeis, e grandes percentuais da população marginalizada social ou economicamente. Esses impactos são mais sentidos por pessoas vulneráveis como resultado de sua alta exposição aos perigos, além de uma menor possibilidade de adaptação e resposta, devido às limitações físicas ou de capacidade financeira.

Os impactos diretos das mudanças climáticas têm duas vertentes principais: choques e impactos repentinos, como tempestades, tufões e ondas de calor; e impactos que aumentam gradualmente ao longo do tempo, como aumento do nível do mar, elevação da temperatura média e mudanças de longo prazo nos padrões de chuva.

Os impactos indiretos incluem: inundações severas (interrompendo as operações portuárias ou ferroviárias, afetando as viagens para o trabalho e impedindo que as mercadorias cheguem ao destino); aumento do risco de doenças transmitidas pela água; apagões de energia, e estresse térmico, exacerbado pelo aumento da temperatura em determinados períodos.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estimou que o custo global de adaptação a esses impactos climáticos deverá crescer para US$ 140-300 bilhões por ano até 2030, e US$ 280-500 bilhões por ano até 2050.

Segundo relatório do Asian Development Bank , a estruturação de modelos para planejamento de cidades resilientes a mudanças climáticas deve ser elaborada por um processo iterativo, inclusivo e integrado, que envolva a conexão de três tipos de avaliação: análise urbana, particularmente compreendendo como a cidade funciona, examinando seu status atual e tendências futuras (como crescimento populacional e desenvolvimento espacial); análise de risco de mudanças climáticas, em especial projetando impactos climáticos diretos e indiretos; e análise de vulnerabilidade da população urbana, que enfrenta alto risco de exposição aos impactos das mudanças climáticas, e tem capacidade limitada para enfrentar esses impactos.

Por outro lado, o desenvolvimento de cenários pode ser uma ferramenta poderosa para planejar a incerteza climática urbana. A análise desses cenários pode ser usada para focar nos impactos das mudanças climáticas no curso das trajetórias de crescimento urbano ou mesmo para entender como as mudanças climáticas podem afetar setores específicos no funcionamento das cidades, como o abastecimento de água.

O planejamento da resiliência envolve o desenvolvimento de uma estratégia que documente a compreensão cumulativa da vulnerabilidade atual e futura e identifique ações que permitam construir resiliência ao longo do tempo. A priorização dessas ações definirá o que pode ser feito de imediato, e como poderá ser reduzido o déficit de resiliência na cidade futuramente.

Não menos importante, contudo, é a análise dos sistemas urbanos. O pensamento sistêmico fornece a plataforma para uma abordagem mais holística, na qual as áreas urbanas são consideradas sistemas "vivos" complexos, passando por inúmeras trocas dinâmicas a qualquer momento.

Neste momento, em que todas as atenções estão voltadas para a COP-27, é imprescindível conscientizar os gestores das cidades sobre a importância de planejar e implementar ações transformadoras para adaptação às mudanças climáticas. No curso desse processo, o aprendizado e o intercâmbio de informações entre as cidades podem se transformar num esforço coletivo, fundamental para a adaptação das áreas urbanas a essas mudanças em curso.

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