É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Cansada de voto inútil, Grécia volta à urna
Lefteris Pitarakis/Associated Press | ||
O ex-premiê Alexis Tsipras enfrenta o conservador Vangelis Meimarakis em debate na Grécia |
Cansados de ver seus votos se revelarem inúteis, os gregos voltam às urnas neste domingo (20) divididos em partes praticamente iguais —e pequenas— entre o esquerdista Syriza, atualmente no governo, e a conservadora Nova Democracia, que antecedeu o Syriza.
Todas as pesquisas do mês revelam um quadro similar: a diferença, sempre a favor do Syriza, oscila entre 0,1 ponto percentual e 1 ponto percentual —em qualquer caso, empate se considerada a margem de erro.
Os gregos votaram em janeiro e elegeram o Syriza, até então partido marginal, por sua plataforma contra a austeridade imposta desde 2010 e que conduziu o país a um retrocesso inédito em situações de paz: a economia caiu 27% no período.
O problema é que votar no Syriza não adiantou nada: os credores não permitiram que a coalizão de esquerda implementasse seu programa.
Consequência: Alexis Tsipras, seu líder, convocou um plebiscito em julho, que lhe deu forte respaldo contra as exigências reiteradas pelos credores.
Tampouco adiantou: Tsipras preferiu render-se, para evitar que a Grécia fosse expulsa do euro uma tragédia, segundo ele, maior do que implantar mais austeridade em troca de mais auxílio, agora na imponente altura de € 86 bilhões.
Diante da inutilidade de votar para mudar as coisas, é natural que os gregos estejam desiludidos e sem entusiasmo pelo novo pleito: algumas pesquisas indicam tendência de abstenção de até 25% do eleitorado, não muito menos do que a porcentagem dos que apontam preferência ou pelo Syriza ou pela Nova Democracia.
E 73% se declaram insatisfeitos com as propostas dos partidos e porcentagem superior (78%) acha muito negativa a qualidade do debate político.
Fácil de entender este último número: não há o que escolher na eleição de domingo, a não ser que partido gerenciará um programa de ajuste decidido pelos credores e já em execução, gostem os votantes ou não.
A menos, é claro, que os gregos resolvam votar pelos poucos e minoritários grupos que são contra o ajuste, caso da recém-criada Unidade Popular, uma dissidência pela esquerda do Syriza.
A decisão talvez acabe se dando apenas pelo confronto de personalidades, ou seja, no debate cara a cara desta noite entre Tsipras e o líder da ND, Evangelos Meimarakis.
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