Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Venezuela

Maduro ganhou; oposição se rende

Diálogo é o único caminho, mas dá tempo ao ditador

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Dias atrás, o presidente Jair Bolsonaro disse, comentando a crise venezuelana, que, quando se acaba a saliva, restam os canhões. A notícia desta semana, em relação sempre à Venezuela, é que a saliva não acabou; o que acabou, na verdade, foi a expectativa de que se acionassem os canhões.

Mais relevante que o diálogo iniciado na semana passada em Oslo entre representantes de Nicolás Maduro e da oposição é a disseminada sensação entre os opositores de que passou o momento de tentar derrubar Maduro ou pelas armas ou pela força da mobilização popular.

Foto divulgada pelo Palácio de Miraflores mostra o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro (de azul), ao lado do ministro da Defesa, Vladimir Padrino (esq.) com bandeiras do país acenando para militares no estado de Aragua
Foto divulgada pelo Palácio de Miraflores mostra o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro (de azul), ao lado do ministro da Defesa, Vladimir Padrino (esq.) com bandeiras do país acenando para militares no estado de Aragua - Presidência Venezuelana/AFP

Leia-se, por exemplo, o que tuitou Luis Vicente León, excelente analista, responsável pelo centro de pesquisas Datanalisis:

“Não é verdade que estamos próximos de uma intervenção militar estrangeira nem que a Força Armada se fraturará sem acordos políticos prévios. Então, não se trata de se te agrada ou não negociar o se confias ou não no governo e na oposição. Trata-se de que não há mais remédio".

Simples assim.

Leia-se também outro analista de qualidade, Moisés Naïm, que, em 2014 e 2015, figurou entre os 100 mais influentes pensadores globais no ranking elaborado pelo instituto suíço Gottlieb Duttweiler. Naïm foi ministro no governo de Carlos Andrés Pérez e atua no Centro Carnegie para a Paz Internacional.

Na sua coluna dominical para El País da Espanha, Naïm seguiu mais ou menos a linha fatalista expressa por León: “Supor que Maduro e os seus possam participar em um diálogo sem mentir e sem tentar manipulá-lo pode ser ingênuo. Mas, talvez, mais ingênuo ainda é supor que, na Venezuela, é possível evitar o diálogo político indefinidamente".

Afastar a hipótese de intervenção militar é ótimo. Seria uma tal insanidade que nunca esteve de fato entre as opções, por mais que Donald Trump e Juan Guaidó a tenham mantido retoricamente como uma possibilidade.

O problema com o diálogo é saber se vai ser como todos os anteriores, os quais “ter­mi­na­ram for­ta­le­cen­do o governo e debilitando a opo­si­ção", como diz Naïm.

É impossível antever o desfecho, como é óbvio. As conversas em Oslo são preliminares. Não se entrou, portanto, no núcleo duro do problema, que é devolver a Venezuela ao jogo democrático limpo e justo.

Mas o diálogo em si mesmo já é algo animador, como diz Leiv Marsteintredet (Universidade de Bergen, Noruega): “É pouco realista esperar resultados rápido. Mas que as duas partes queiram conversar é uma mudança recente que pode justificar um otimismo moderado".

Para reforçar o otimismo dos e das Pollyannas de plantão, um lembrete: a Noruega abrigou conversações entre israelenses e palestinos que produziram o mais abrangente projeto de acordo de paz (se não funcionou depois, não é culpa dos mediadores); abrigou também pedaços da negociação entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Pôs fim à uma guerra de 50 anos.

Para pôr um pouco de água no otimismo: a Venezuela não pode esperar 50 anos, nem mesmo 50 meses. Será dissolvida se não houver uma normalização relativamente rápida.

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