Colo de Mãe

Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

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Dia da Mulher escancara desigualdades quando se é mãe

Diferença salarial entre homens e mulheres é de 20%; renda cai ainda mais para quem tem filhos e chefia a casa sozinha

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São Paulo

No Dia da Mulher, quando o foco do debate se volta para os direitos femininos, é sempre bom lembrar que as desigualdades se tornam ainda maiores quando o assunto é maternidade.

Depois que se é mãe, a mulher geralmente é a última da fila, seja ela de cuidados ou do mercado de trabalho. Mãe é a última a comer, a última a dormir e a última a ser contratada ou promovida. Mas é a primeira a acordar, a que assume praticamente todos os cuidados com os filhos e a que entrega tudo de si na profissão.

Desigualdades no mercado de trabalho aumentam quando a mulher é mãe - Fotolia

O reconhecimento nem sempre ocorre. E a situação se torna pior quando o recorte é por cor e/ou raça. Estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) para o Dia da Mulher mostra que a relação entre renda e maternidade está totalmente ligada à qualidade de vida da mulher e da família.

Com renda menor, a qualidade de vida —e, consequentemente, as oportunidades— piora conforme a organização familiar: se a mulher é a chefe, se a família é monoparental chefiada por mulher e se a mulher é negra.

Em 2022, a maioria dos lares no país era chefiado por mulheres. Dos 75 milhões de domicílios, 50,8% tinham liderança feminina, o correspondente a 38,1 milhões de famílias. Já as famílias com chefia masculina somaram 36,9 milhões.

As mulheres negras lideravam 21,5 milhões de lares (56,5%) e as não negras, 16,6 milhões (43,5%) no terceiro trimestre de 2022, conforme os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para este tipo de recorte.

Segundo estudo, em termos de renda per capita (por pessoa da família) proveniente do trabalho, foi nos domicílios monoparentais chefiados por mulheres com filhos que se observou a menor renda per capita, de R$ 789, pouco mais do que meio salário mínimo.

No arranjo monoparental com filhos no qual a chefia é masculina, o valor per capita foi de R$ 1.198, quase dois salários mínimos de 2022, de R$ 1.212.

A renda per capita média de todos os lares no terceiro trimestre de 2022 foi de R$ 1.336. Nas casas chefiadas por mulheres, foi de cerca de 71,6% do valor recebido nos lares liderados por homens.

O desemprego também atingiu mais as mulheres. Do total de pessoas fora da força de trabalho, 64,5% eram mulheres. Quando se trata de desalento —situação em que a pessoa deixa de procurar emprego por acreditar que não irá encontrar uma vaga— 55,5% dos desalentados eram mulheres.

A sensação que tenho é que, em diversos ambientes produtivos de nosso país, especialmente em postos de liderança, as mães sejam olhadas como se, ao parir um filho, tivessem mandado o cérebro para fora de seu corpo também.

A bela frase "nasce um filho, nasce uma mãe"—que tanto nos emociona— pode ser traduzida, em muitos momentos, para nasce um filho, nasce uma desempregada, uma sobrecarregada, nasce alguém fadado a perder reconhecimento financeiro.

O caminho a se percorrer para diminuição de todas essas diferenças é longo. Passa, certamente, por legislações mais firmes e por maior proteção social em termos de violência, igualdade de gênero, equidade e educação.

Passa, no entanto, por consciência e mudança na ordem de constituição da sociedade. A parentalidade precisa ser real. Cuidados com casa e filhos devem ser divididos de igual para igual e a maternidade não pode ser fator de preconceito ou de falta de oportunidades no mercado de trabalho.

Celebremos hoje nossa força, sempre com olhar crítico no dia a dia que nos consome, mas com esperança para mudar o que precisa ser mudado, garantindo um futuro melhor para nós, nossas meninas e toda a sociedade.

Especialmente nesta semana, a coluna é publicada na quarta-feira (8) por ser Dia Internacional da Mulher

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