Uma das coisas mais engraçadas que ouvi na campanha eleitoral para a presidência da República foi o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) dizer "o pai tá on". Sempre polido e com um jeito de falar mais conectado com elites do que com periferias, a frase soava-me estranha na boca dele.
O estranhamento dissipou-se até eu entender com profundidade o que é estar on. Na época, acreditei que a frase de Alckmin fazia referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então candidato. Agora, desconfio que o vice-presidente referia-se a ele mesmo.
Valho-me hoje da mesma empolgação de Alckmin para dizer que a "mãe tá on". E como é bom estar on. Passei quatro meses afastada deste espaço por questões ligadas à saúde. Foram duas cirurgias, diversos exames e a retirada de 16 partes de mim por conta de uma endometriose severa —doença que acomete cada vez mais mulheres.
A endometriose é silenciosa e o que pode levar a seu diagnóstico são cólicas menstruais fortes. Mas, apenas cólicas não significam que a mulher tenha a doença, que é de difícil detecção e exige exames específicos, não são solicitados nas consultas de rotina por serem muito invasivos.
Estar severamente doente e receber esse diagnóstico não foi fácil, mas trouxe certa tranquilidade. É bom saber o que se tem para começar o tratamento —por mais difícil que ele seja— e seguir em direção à cura. Caminho que traz certeza de poder exercer a maternidade de forma plena.
Com os crescentes casos, creio que a endometriose precise entrar na pauta do novo governo no que diz respeito à saúde das mulheres e ter atenção especial em termos de saúde pública.
Ser mãe de duas meninas facilitou a forma como eu encarei a doença, já que foi necessária a retirada do útero. Mas a endometriose pode acometer mulheres jovens e, se não tratada, atrapalhar os sonhos da maternidade. É necessário lutarmos para que se encare esse assunto de frente.
As dificuldades me fizeram ampliar o entendimento de quanto é necessário que as mães estejam saudáveis para exercer a maternidade plena. Que tempo de qualidade é importante, mas quantidade de tempo com os filhos também.
Não estou 100% recuperada, mas é muito bom estar de volta para seguir com as reflexões sobre filhos, mães, pais e famílias em tempos de tantas transformações sociais. Para continuar o debate sobre saúde, educação, bem-estar e direitos maternos. Pois só quando estamos inteiras como seres humanos, seja em termos físicos ou psicológicos, e somos respeitadas é que conseguimos exercer a maternidade em sua plenitude.
Meu ano novo começa agora. Perdi partes de mim, mas ganhei força, esperança e otimismo. A mãe está on. Totalmente on.
QUAIS OS PRINCIPAIS SINTOMAS DA ENDOMETRIOSE?
Sentir cólica não pode ser visto como algo natural para quem menstrua. Procure a ginecologista e descreva o que sente
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Cólica intensa no período menstrual
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Dores na relação sexual
Quando ocorre penetração
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Dor para evacuar
Alterações do hábito intestinal e a sensação de que o intestino não foi completamente esvaziado
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Dificuldade para engravidar
Cerca de 30% das pessoas com endometriose podem lidar com infertilidade
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