Um pai e uma mãe dedicados, e uma filha linda, simpática, inteligente e comunicativa. Fotos, sorrisos e abraços por anos a fio, até que, numa noite de domingo, a jovem, antes uma menina encantadoramente ingênua, mostra-se uma adulta madura e revela que rompeu com sua família. O motivo? Dinheiro fruto de seu trabalho.
Larissa Manoela, 22, é a estrela dessa história que, até então, para muitos de nós, parecia perfeita. Pais que dedicaram a vida a transformá-la numa popstar recusavam-se a dar a ela seu próprio dinheiro. Em um dos casos contados pela jovem, precisou pedir um Pix para pagar um milho na praia.
Conservadores querem nos fazer acreditar que unidades familiares onde há um pai, uma mãe e filhos que não questionam seu papel —seguem se identificando física e sexualmente com o gênero com o qual nasceram— são ambientes perfeitos para uma sociedade melhor. E, se essa família for branca, a receita seria infalível.
A defesa da tradicional família, muitas vezes, esconde desvios de caráter. A história de Larissa é só mais um dos exemplos de que a família pode, sim, ser lugar tóxico, de adoecimento e de dor. Não apenas para a jovem agora ex-milionária (deixou R$ 18 milhões com seus pais para encerrar a disputa judicial).
E precisamos normalizar essa questão, sem tentar vender o modelo tradicional de papai, mamãe e filhinhos como a solução para os problemas. Forçar pessoas a acreditarem que o estereótipo estampado em TVs, jornais, revistas e redes sociais deve ser a meta de existência humana leva homens e, principalmente, mulheres a muitas frustrações.
Quantas são as mães que veem os ex-companheiros abandonarem os filhos após uma separação? Inúmeras. Todos conhecemos ao menos uma. Quantas são as mães que criam sozinhas seus filhos, em famílias reduzidas e que veem torcerem o nariz para formação social em que vivem?
E quantas são as famílias em que avós criam seus netos, mas que não há reconhecimento dessa formação como espaço de acolhimento, mas sim como local em que alguém não seguiu o papel e desestruturou o modelo.
A defesa da tradicional família não tem a ver com amor. Historicamente, remonta à defesa do patrimônio, da acumulação de capital e da dominação patriarcal. Assim como Larissa, o ideal seria romper com tudo isso. Libertar não só seus membros, mas a própria família de seguir modelo predeterminado.
Família perfeita não existe, embora tentem nos fazer acreditar nisso. Famílias estruturadas e baseadas em amor, respeito e acolhimento são possíveis. Está aí a Família Gil provando isso. Mas não só. Relações em que os membros se sintam acolhidos —sejam elas de parentesco ou não— devem ser validadas com mais força e veemência. Não em uma destruição familiar, mas numa soma de afetos.
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