Colo de Mãe

Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Colo de Mãe
Descrição de chapéu Família maternidade

Larissa Manoela e o mito de que toda família é porto seguro

Boas relações familiares são alicerce para o crescimento, mas quando a família falha, adoece seus membros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um pai e uma mãe dedicados, e uma filha linda, simpática, inteligente e comunicativa. Fotos, sorrisos e abraços por anos a fio, até que, numa noite de domingo, a jovem, antes uma menina encantadoramente ingênua, mostra-se uma adulta madura e revela que rompeu com sua família. O motivo? Dinheiro fruto de seu trabalho.

Larissa Manoela, 22, é a estrela dessa história que, até então, para muitos de nós, parecia perfeita. Pais que dedicaram a vida a transformá-la numa popstar recusavam-se a dar a ela seu próprio dinheiro. Em um dos casos contados pela jovem, precisou pedir um Pix para pagar um milho na praia.

Larissa Manoela quebra o silêncio e fala sobre rompimento com os pais em entrevista ao 'Fantástico' - Reprodução/Globo

Conservadores querem nos fazer acreditar que unidades familiares onde há um pai, uma mãe e filhos que não questionam seu papel —seguem se identificando física e sexualmente com o gênero com o qual nasceram— são ambientes perfeitos para uma sociedade melhor. E, se essa família for branca, a receita seria infalível.

A defesa da tradicional família, muitas vezes, esconde desvios de caráter. A história de Larissa é só mais um dos exemplos de que a família pode, sim, ser lugar tóxico, de adoecimento e de dor. Não apenas para a jovem agora ex-milionária (deixou R$ 18 milhões com seus pais para encerrar a disputa judicial).

E precisamos normalizar essa questão, sem tentar vender o modelo tradicional de papai, mamãe e filhinhos como a solução para os problemas. Forçar pessoas a acreditarem que o estereótipo estampado em TVs, jornais, revistas e redes sociais deve ser a meta de existência humana leva homens e, principalmente, mulheres a muitas frustrações.

Quantas são as mães que veem os ex-companheiros abandonarem os filhos após uma separação? Inúmeras. Todos conhecemos ao menos uma. Quantas são as mães que criam sozinhas seus filhos, em famílias reduzidas e que veem torcerem o nariz para formação social em que vivem?

E quantas são as famílias em que avós criam seus netos, mas que não há reconhecimento dessa formação como espaço de acolhimento, mas sim como local em que alguém não seguiu o papel e desestruturou o modelo.

A defesa da tradicional família não tem a ver com amor. Historicamente, remonta à defesa do patrimônio, da acumulação de capital e da dominação patriarcal. Assim como Larissa, o ideal seria romper com tudo isso. Libertar não só seus membros, mas a própria família de seguir modelo predeterminado.

Família perfeita não existe, embora tentem nos fazer acreditar nisso. Famílias estruturadas e baseadas em amor, respeito e acolhimento são possíveis. Está aí a Família Gil provando isso. Mas não só. Relações em que os membros se sintam acolhidos —sejam elas de parentesco ou não— devem ser validadas com mais força e veemência. Não em uma destruição familiar, mas numa soma de afetos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.