Daniel E. de Castro

Jornalista especializado na cobertura de esportes olímpicos. Foi repórter e editor de Esporte da Folha e cobriu os Jogos de Tóquio

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Daniel E. de Castro
Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Como será o amanhã olímpico do Brasil?

Campanha em Paris fica dentro do esperado; modelo de investimento do país pode ter atingido seu teto

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O quadro de medalhas é a métrica mais usada para decretar o sucesso ou o fracasso de uma campanha olímpica. Ele está em todas as mídias, é de fácil leitura e baseado em números, que em tese não mentem —mas podem ser cruéis.

Medalhas vêm, vão ou mudam de cor graças a uma posição, um passo fora do tablado, alguns centésimos e até ondas que teimam em não aparecer.

Analisar o trabalho de centenas de atletas e outros profissionais com base numa tabela tem limitações. Ao mesmo tempo, se os recordes do Brasil costumam ser celebrados, como aconteceu nos Jogos do Rio-2016 e de Tóquio-2021, é justo que uma queda de desempenho —ainda que pequena— provoque cobranças e reflexões.

Em Paris-2024, a baixa mais notável foi no número de ouros: 3, ante os 7 das últimas duas edições. No total de medalhas, a média foi mantida: 20, depois de 19 no Rio e 21 em Tóquio.

Poderia ser uma a mais, uma a menos…

Ginástica artística e judô cresceram. O boxe piorou. A natação, não é de hoje, precisa rever tudo.

No geral, a campanha brasileira ficou dentro do esperado para quem acompanhou o ciclo. Já se sabia que as chances de ouro eram raras. Duda e Ana Patrícia confirmaram as expectativas. Gabriel Medina, Rayssa Leal e Beatriz Ferreira levaram o bronze. No caminho inverso, Rebeca Andrade e Beatriz Souza desbancaram favoritas para serem campeãs.

É válido refletir sobre o que poderia ser feito para buscar mais ouros, mas, muitas vezes, a cor da medalha é circunstancial. Olhar para o total delas permite análises mais amplas sobre o estágio atual do esporte brasileiro.

A primeira vez que as conquistas do Brasil chegaram a dois dígitos foi em Atlanta-1996, com surpreendentes —para a época— 15. Não era uma marca condizente com os investimentos de então, como mostraram as edições seguintes: 12 em Sydney-2000 e 10 em Atenas-2004. Curiosamente, na Grécia foram cinco ouros, metade do total.

O patamar subiu para 17 medalhas em Pequim-2008 e Londres-2012 e agora se consolida na casa das 20.

Imagem fechada em atletas do Brasil balançando bandeiras do país no barco em que desfilaram no rio Sena
Atletas brasileiros na cerimônia de abertura dos Jogos de Paris; campanha ficou dentro do esperado - Carl de Souza - 14.jul.24/via Reuters

Dois fatores principais ajudam a explicar essa curva. A Lei Piva, do começo do século, alavancou o investimento público no esporte ao direcionar parte da arrecadação das loterias para algumas entidades, entre elas o Comitê Olímpico do Brasil (COB). Essa política se mantém como principal motor do alto rendimento no país.

Hoje, o COB não tem problemas para investir no pelotão de elite, independentemente da modalidade. Por isso, brasileiros brigam por medalhas e acumulam resultados inéditos na canoagem slalom, no tênis de mesa, no tiro com arco, entre outros.

Ter sediado os Jogos em 2016 também garantiu verbas que ajudaram a impulsionar atletas até aqui, por exemplo, com a contratação de treinadores de referência e a construção de centros de treinamento de ponta. Isaquias Queiroz e Rebeca Andrade (que juntos somam 11 medalhas desde 2016) são talentos lapidados por esses investimentos.

Programas como o Bolsa Atleta (de 2005) e a inclusão de esportistas nos quadros das Forças Armadas (a partir de 2008) também contribuem pontualmente. O governo federal, porém, historicamente escolhe ser coadjuvante nesse processo, ao não olhar para a massificação do esporte no país como política pública.

Nesse cenário, as últimas três Olimpíadas podem ter indicado um teto para a evolução brasileira nos Jogos. O país investiu no topo da pirâmide e colheu os frutos. O ciclo de Los Angeles será um teste para saber se o legado de 2016 é sustentável ou corre risco de desaparecer com o tempo.

Manter esse patamar de resultados, com algumas medalhas a menos ou a mais, parece ser o futuro olímpico brasileiro. Pelo menos hoje, nada tem sido feito para ir além disso.

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