"Estou ficando gigante", brincou Rebeca Andrade no sábado (3), ao faturar na prova de salto sua terceira medalha em Paris. Com a quinta conquista olímpica da carreira, ela tinha igualado o recorde entre atletas brasileiros.
Nesta segunda (5), a ginasta se isolou na liderança com a medalha de ouro no solo. É a maior atleta olímpica do país: dois ouros, três pratas e um bronze. Na última prova do programa olímpico, ela transformou em realidade o que desde o início parecia um sonho distante, ainda que possível, e desbancou Simone Biles.
Rebeca garantiu seu lugar no olimpo do esporte brasileiro e da ginástica artística mundial, reverenciada no pódio pelas americanas Biles (prata) e Chiles (bronze).
O roteiro de superação das adversidades ficou conhecido nos Jogos de Tóquio, quando vieram as primeiras medalhas dela. A caminhada até Paris foi marcada por seguidas reafirmações de talento. Mas ainda faltava a consagração.
Um ciclo olímpico excelente não garante medalha nos Jogos. Executar o que se sabe no momento certo pode ser um grande desafio. Rebeca, que sempre prezou pela preparação mental, estava pronta para ele.
Em entrevista à Folha em maio, ela disse que confiava cada vez mais em si mesma e que não se sentia pressionada. Um bom discurso, que melhora quando se transforma em realidade.
Sem a mesma capacidade de Rebeca para controlar a ansiedade, já estamos discutindo o futuro dela e projetando o ciclo para Los Angeles-2028.
Nada do que é falado num momento tão caloroso deve ser escrito em pedra, mas parece coerente a ideia já mencionada por ela de deixar de fazer os quatro aparelhos (consequentemente o individual geral) e priorizar alguns deles.
Seria ótimo vê-la se especializar ainda mais no salto e incluir "Andrade" no código de pontuação, e também se aperfeiçoar nas barras assimétricas, seu aparelho favorito. Para quem fez três cirurgias no mesmo joelho, essa parece a forma mais segura de continuar saudável, disputando medalhas e ajudando na renovação da equipe brasileira.
Será interessante acompanhar também o futuro de Simone Biles. Não faltará pressão para que a americana continue em ação até os Jogos em casa, quando terá 31 anos. Resta saber se o corpo e a mente dela vão concordar com essa ideia.
Não foi desta vez
Hugo Calderano, 28, e Marcus D’Almeida, 26, estão entre os melhores do mundo no tênis de mesa e no tiro com arco e têm trajetórias semelhantes: investem em aperfeiçoamento para desafiar as potências desses esportes; disputaram a terceira edição olímpica da carreira; e pareciam viver o melhor momento para conquistar uma medalha inédita —que não veio para nenhum deles.
Hugo não conseguiu se recuperar da derrota na semifinal e saiu sem a medalha de bronze. Marcus pagou o preço de ter iniciado mal a competição e teve que enfrentar o futuro campeão olímpico logo nas oitavas.
Quedas dolorosas, especialmente a de Hugo, pelo aspecto emocional. Que o choro e a frustração virem combustível para ambos tentarem de novo em Los Angeles.
Foi desta vez
Em um ano marcado por derrotas nos Grand Slams e uma lesão no joelho, Novak Djokovic finalmente alcançou a grande meta que ainda perseguia: o ouro olímpico. A imagem dele em prantos diz tudo. Impossível não recordar outro choro do sérvio, quando foi derrotado na Rio-2016. Se ele já era o grande ídolo nacional, agora deve virar divindade.
Roland Garros sediou um torneio olímpico para a história, com bons jogos da dupla Nadal-Alcaraz, a aposentadoria do bicampeão olímpico Andy Murray, o ouro surpreendente de Qinwen Zheng depois de derrotar a favoritíssima Iga Swiatek, e a emoção da polonesa que se recuperou para buscar o bronze.
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