Daniel Furlan

Ator, comediante e roteirista, é um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o programa "Choque de Cultura".

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Daniel Furlan

Um filme (parte 5)

A mensagem é o uso do preservativo, evidenciada com merchandising de uma marca

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Após a morte do monstro, numa espetacular reviravolta dos acontecimentos, descobre-se que o corpo era na verdade de um inocente escoteiro, e o verdadeiro assassino era o atleta da escola ex-namorado da ciborgue alienígena, que também havia voltado no tempo escondido na máquina. 

Sua farsa é desmascarada quando ele mesmo, na frente de todos, não se aguenta e por vaidade (e estupidez), confessa todo o plano e aproveita para explicar o filme. Religioso, ele havia assassinado a mãe do menino por ser fruto de um relacionamento pecaminoso com o ex-militar, trauma que inclusive causou a amnésia do garoto. O agora capturado assassino confesso é perdoado pela Justiça, mas o ex-militar, pai da criança bastarda, é condenado à morte.

Em seus últimos momentos, ele agride verbalmente o povo da cidade, cospe na cara do nosso herói, balbucia palavras desconexas sobre amor e frases feitas sobre acreditar em seus sonhos, além de deixar um talismã (na prática um pedaço quebrado de espelho) e um mapa do tesouro. Nosso protagonista não dá atenção aos delírios do ex-militar, mas ainda assim guarda o pedaço de espelho e o mapa no bolso.

Tudo caminha para um desfecho emocionante, em que os envolvidos finalmente aprendem o valor da tolerância e do amor sem pré-julgamentos, mas a verdadeira mensagem, em meio a personagens com doenças sexualmente transmissíveis e filhos proibidos, é o uso do preservativo, evidenciada com um ostensivo merchandising de uma grande marca do segmento, com um slogan dito com muita dificuldade por um jogador de futebol cercado por seus seis filhos reconhecidos, que aparecem de forma totalmente descontextualizada na história.

Mas, quando a harmonia do desenlace parece finalmente reinar, o pequinês, a caminho de casa para um merecido descanso, cai com sua cadeira de rodas numa ribanceira e acaba falecendo. Armação? Fatalidade?

Nosso herói, atormentado, segue o caminho doloroso do autoconhecimento se afundando nas drogas, no jogo e nas más companhias, perdendo todo o pouco dinheiro que lhe restava e endividando com gangues mafiosas irlandesas, sicilianas, japonesas e porto-riquenhas, que lutam pelo controle local. Viciado, falido e promíscuo, não lhe resta outra saída a não ser o fundo do poço: arrumar um emprego.

Ilustração de Luciano Salles para Daniel Furlan de 4.mar.2019.
Luciano Salles


 

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