Na semana passada, Joe Biden fez o discurso anual do Estado da União. Tradicionalmente, é o momento em que nosso presidente fala da confusão na qual o país está e de suas ideias terríveis para consertá-lo.
Em geral, os presidentes manobram a narrativa para apresentá-la sob o prisma de seu partido e, de modo passivo-agressivo, culpam o lado oposto por todos os problemas, para então... fazer um chamado por união. Biden esperava usar o discurso para reforçar o apoio minguante à sua tentativa prevista de se reeleger em 2024, mas fazer o discurso diante do Congresso não é fácil. Então como foi?
Os discursos do Estado da União de Trump não passavam muito de Estados da União Soviética, porque eram frios, era preciso vodca para ouvi-los e em vários momentos ele parecia estar reverenciando seu líder supremo, Stal... —quer dizer, Putin. Já Biden começou em tom mais leve, parabenizando Kevin McCarthy por ter conquistado a presidência da Câmara, para então falar das realizações de seu governo.
Biden alardeou um desemprego de 3,4%, o nível mais baixo em 50 anos, salários em alta e suas vitórias legislativas, como o pacote de infraestrutura de US$ 1,75 trilhão, aprovado por ambos os partidos, a lei de Chips e Ciência e a lei de energia verde. Em seguida, falou de sua agenda contra a mudança climática, proibições de armas de assalto, direitos do aborto, expansão do sistema de saúde, reforma tributária e da polícia e solidariedade com a Ucrânia. Logo, quem sabe, um Lênin diante de Trump como Stálin.
É um prazer ouvir sobre essas legislações, mas será mais difícil aprová-las do que expelir um cálculo renal —procedimento que, graças à Big Pharma, você teria que vender um rim para poder pagar.
Rompendo com seus apelos por união (o que te falei?), Biden atiçou os republicanos, acusando-os de transformar as negociações sobre o teto da dívida em reféns para obrigá-lo a fazer cortes no Medicare e na previdência social. Assim, quando eles o vaiaram para acalmar sua base de renda mais baixa, Biden pôde dizer: "Então todos concordamos que esses cortes estão excluídos?", acreditando falsamente que o partido que de algum jeito é ao mesmo tempo pró-liberdade de escolha e anti-poder-de-optar-pelo-aborto não exerceria sua liberdade de abortar essas convicções falsas e usar os cortes como trunfo de barganha.
A governadora do Arkansas, Sarah Sanders, fez o discurso de réplica dos republicanos após o discurso de Biden. Foi como quando nossos pais brigam e um deles desce para a sala para fazer de conta que está tudo bem, enquanto o outro continua a gritar sobre as falhas do primeiro na cama e como companheiro.
Os discursos dela e de outros conservadores fustigaram a libido presidencial, descrevendo as palavras de Biden como obra de ficção, atribuindo-se o crédito por uma economia que já estava se recuperando e culpando o presidente pela crise de opiáceos, pela dívida nacional de US$ 3,4 trilhões, pela inflação galopante, pela promoção de uma agenda esquerdista radical e chamando-o de "velho rabugento". Já que os velhos rabugentos são conhecidos sobretudo por sua pauta esquerdista radical e o gosto por opiáceos.
Mesmo um cínico como eu tem que admitir que Biden proferiu um grande discurso. McCarthy aplaudiu em alguns momentos, chegando a pedir silêncio a republicanos que vaiavam –um avanço para a harmonia interpartidária. Mas com pesquisas recentes indicando que apenas 37% dos democratas acham que Biden deve se candidatar novamente, 41% dos americanos dizendo sentir que estão em situação pior desde seu mandato e apenas 16% em situação melhor, será que o discurso bastou para modificar a opinião pública?
Ou seu partido está disposto a apostar num jovem rabugento? Sei o que você está pensando e... sim, topo!
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