David Wiswell

Escritor, roteirista e comediante americano

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

David Wiswell
Descrição de chapéu Partido Republicano

Partido Republicano ficou paralisado ao pensar que podia conter seus monstros

Concessões de McCarthy para comandar Câmara dos EUA nos colocam nas mãos de extremistas que vomitam verborragia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tendo conquistado uma parca maioria de nove cadeiras entre 435 na Câmara dos EUA, republicanos tinham o plano de eleger Kevin McCarthy para o cargo poderoso de presidente da Casa.

Isso deslancharia a agenda deles: atacar o direito ao aborto, aumentar nosso orçamento militar já inchado, reduzir impostos sobre os ricos, cortar programas sociais e, provavelmente, beijar Vladimir Putin na boca por ser tão bom menino.

Deputado republicano Kevin McCarthy, hoje presidente da Câmara, ao lado da deputada Marjorie Taylor Greene no Capitólio
Deputado republicano Kevin McCarthy, hoje presidente da Câmara, ao lado da deputada Marjorie Taylor Greene no Capitólio - Jonathan Ernst - 4.jan.23/Reuters

Ou pelo menos era esse o plano de McCarthy. Até que os deputados mais radicais de seu partido o bloquearam, deixando de lhe dar votos e forçando-o a atender às demandas deles em arranjos acordados a portas fechadas para lhe darem a vitória.

À medida que esses arranjos vão vindo à tona pouco a pouco, muitos dizem que isso enfraquece a posição de McCarthy, enquanto para o resto de nós é preocupante descobrir quais as trocas que ele negociou relativas ao nosso futuro —ou ausência de futuro.

Uma concessão feita abertamente foi que qualquer deputado agora pode abrir uma votação para afastar McCarthy da presidência da Câmara. Isso significa que, para conservar-se em sua posição precária, ele precisa se submeter aos caprichos dos membros do partido.

Abraham Lincoln disse: "Não é possível agradar a todas as pessoas o tempo todo". Uma das chantagistas mais extremistas de Kevin, Marjorie Taylor Greene, disse certa vez: "Uma aliança profana de esquerdistas, capitalistas e supremacistas sionistas conspirou para promover a imigração e a miscigenação, com o propósito intencional de reproduzir e multiplicar-se até nos excluir em nossa própria terra".

As duas citações parecem dizer a mesma coisa, mas de modo diferente: que alguns –como os loucos— dificilmente podem ser levados a aceitar qualquer consenso racional. Especialmente se vivem em um planeta diferente ou se, quem sabe, acreditam que uma organização secreta formada por gente de outro planeta dominou nosso governo e está usando raios laser lançados do espaço sideral para iniciar os incêndios florestais na Califórnia. Lamentavelmente, a parte sobre os raios laser espaciais não é brincadeira –é um dos tuítes de Marjorie.

Em 2021, a acima citada Marjorie Taylor Greene foi barrada de todos os comitês da Câmara por seus posts no Twitter de teor antissemita e carregados de teorias conspiratórias, além de curtir posts que propunham a execução de líderes democratas. Fico imaginando se ela teria reagido ao assassinato de Kennedy com um "kkkk" ou teria comentado o ataque a Pearl Harbor com um emoji de piscadela.

McCarthy acaba de incluí-la nos poderosos comitês de fiscalização e de segurança interna. Ironicamente, colocando nossa segurança interna em perigo, num ato que parece uma falha terrível de fiscalização.

Duas outras concessões incluem nos comitês de fiscalização e de recursos naturais os deputados Lauren Boebert –defensora do QAnon, que crê que um grupo de democratas satânicos, pedófilos e canibais está em guerra com o salvador Donald Trump— e Paul Gosar, que postou um vídeo de animê que o mostra matando a deputada Alexandria Ocasio-Cortez.

Por ironia, o comitê de fiscalização, com teóricos conspiratórios, é encarregado de conspirar para perseguir Joe Biden por acusações diversas, isto é, claro, depois que tiver apurado se a Terra é ou não plana.

Essas são quatro das negociatas mais preocupantes feitas até agora e são exacerbadas pela notícia de que o candidato republicano Solomon Peña foi preso, acusado de pagar por uma série de ataques recentes a tiros contra as residências de parlamentares democratas. O que impõe a pergunta lógica: em qual comitê ele deveria ser posto?

Muitos —muitas das vozes na minha cabeça— estão dizendo que essa é a conclusão lógica do sequestro do Partido Republicano por extremistas sensacionalistas que vomitam verborragia nociva para se fazerem eleger e que o partido se paralisou por pensar que poderia controlar os monstros que agora estão correndo soltos por aí.

Enquanto outros dizem: "Uma aliança profana de esquerdistas, capitalistas e supremacistas sionistas conspirou para promover a imigração e a miscigenação, com o propósito intencional de reproduzir e multiplicar-se até nos excluir em nossa própria terra".

Quem sou eu para saber?

Tradução de Clara Allain 

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.