Donald Trump se gabou inúmeras vezes de ser um presidente americano histórico. Agora ele finalmente cumpriu essa promessa, tornando-se o primeiro a ser indiciado. Se bem que provavelmente não é o primeiro a ter pago por sexo.
Segundo o promotor de Manhattan, antes da eleição de 2016 Trump pagou uma modelo e uma atriz pornô para guardar silêncio sobre casos que teve com elas e pagou para garantir silêncio em torno de um filho ilegítimo.
Os subornos teriam sido pagos por seu advogado, a quem ele reembolsou com uma série de pagamentos lançados como despesas jurídicas. Isso levou um grande júri a lhe fazer 34 acusações de falsificação de registros comerciais. As acusações foram alçadas ao nível criminal porque a intenção foi ocultar outro crime, que seria a tentativa de afetar um resultado eleitoral, escondendo informação danosa.
Acho que enquanto o herói de Bolsonaro é Trump, que está potencialmente a caminho da prisão, o herói de Trump talvez seja Lula. Examinemos os detalhes, possíveis perigos e implicações de tudo isso para a candidatura presidencial próxima de Trump.
Em 2018 o ex-advogado de Trump, Michael Cohen, confessou-se culpado e foi para a prisão por seu envolvimento nesses pagamentos. Quer dizer que as doenças de Trump não são apenas sexualmente transmitidas –também são legalmente contagiosas. Cohen está disposto a depor, parece ansioso por isso. Também veio à tona uma gravação de Trump perguntando a Cohen quanto esses pagamentos lhe custariam.
Especialistas dizem que esse indiciamento inusitado pode deslanchar acusações pendentes e muito mais graves que pairam sobre Trump. É mais ou menos como quando você bebeu muito e seu primeiro xixi é o estopim para muitos outros em rápida sucessão. Não quero soar enviesado, mas pessoalmente torço para fazerem xixi em cima dele. Aliás, consta que há um vídeo documentando isso em algum lugar em Moscou...
Trump continua a caracterizar todos os seus problemas legais como ataques politicamente motivados cujo objetivo é atrapalhar sua candidatura na eleição de 2024.
Ao longo desse período ele tem ido às redes sociais para atacar o promotor e o juiz, pedir cortes no financiamento do FBI e do Departamento de Justiça e até lançar avisos tenebrosos sobre "morte e destruição" se ele fosse indiciado.
Para a alegria do mundo civilizado, desde o indiciamento houve apenas protestos pacíficos e mínimos, fazendo da "morte e destruição" apenas mais uma das promessas não cumpridas de Trump.
Porém, apesar de 44% dos republicanos numa pesquisa da Reuters terem dito que se Trump fosse indiciado ele não deveria se candidatar, a pesquisa na realidade aponta para um aumento espantoso de 4% nos que lhe dariam seu apoio nas primárias, isso apenas nos primeiros dias desde que o indiciamento foi anunciado.
Trump é visto por alguns como símbolo da "instrumentalização do governo contra os conservadores"; 80% dos republicanos concordam que a ação judicial é politicamente motivada. Parece que a gente não pode nem mais falsificar registros de pagamentos por sexo para influenciar uma eleição. Será que esses democratas não dão a mínima para os valores cristãos?!
Trump mobilizou essa percepção de vitimização e todo o show em torno dela em um frenesi de arrecadação, levantando mais de US$ 4 milhões em um único dia depois de ser indiciado. São mais sinais de mobilização de apoio a Trump, cujo julgamento será daqui a mais de um ano. E para o qual ele evidentemente vai precisar de muito dinheiro para comprar silêncio.
Falamos muitas vezes da ameaça que Trump representa à democracia e ao Estado de Direito, mas a meu ver o maior perigo criado por figuras como ele é o do emburrecimento de nosso discurso.
Mark Twain recomendou: "Nunca discuta com um idiota. Ele te arrastará para o nível dele e te vencerá com sua experiência." Trump já fez isso inúmeras vezes com a discussão cultural nos EUA, nos reduzindo a seu nível ignorante.
Nesta semana eu pretendia escrever sobre um assunto que é uma paixão pessoal minha –as ameaças atuais aos sindicatos americanos—, mas, como um buraco negro, Trump me sugou e forçou a escrever sobre um fanfarrão idiota que nem sequer sabe pagar direito por sexo.
Portanto, não se surpreenda se na semana que vem eu te entediar escrevendo sobre a notícia mais substancial desta semana, a união entre trabalhadores, em vez da união entre um homem e uma atriz pornô.
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