David Wiswell

Escritor, roteirista e comediante americano

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Obsessão por liberdade faz EUA legalizarem opressão entre cidadãos

Decisão da Suprema Corte em caso baseado numa suposta mentira desfere novo golpe nos direitos humanos

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Nos EUA, somos tão obcecados por liberdade que acabamos de legalizar a opressão entre cidadãos! Viva!

Por 6 a 3, a conservadora maioria da Suprema Corte decidiu a favor de uma web designer evangélica. Lorie Smith argumentou que suas crenças deveriam isentá-la de uma lei do estado do Colorado que a multaria caso ela se recusasse a montar um site de casamento para um casal gay.

A corte tem sido alvo de críticas após se envolver em controvérsias éticas e tomar decisões de extrema direita, que agora se somam a uma revelação que pode indicar que houve fraude na ação de Smith.

Lorie Smith, a web designer, addresses supporters in front of the US Supreme Court, Washington DC
Lorie Smith, a web designer, addresses supporters in front of the US Supreme Court, Washington DC - Anna Moneymaker - 5.dec.22/Getty Images via AFP

Chegaremos a esse ponto, mas antes: a base desse processo questiona onde começa a liberdade de uma pessoa e termina a de outra? A liberdade de oprimir é um pouco como ser racista pela diversidade?

A decisão restringe esta e outras 18 leis estaduais semelhantes de "acomodações públicas", destinadas a proibir a discriminação baseada em identidades como raça, gênero e orientação sexual. Isso me faz questionar: se abrimos a possibilidade de adaptar as leis às nossas crenças pessoais, posso alegar que minha crença budista de que "todos somos um" significa que, tecnicamente, não roubei aquele carro?

A decisão argumenta que artistas não devem ser forçados a criar arte com algo do qual discordam, pois infringiria sua liberdade de expressão, mas qualquer um que visite um site de casamento discordará que aquilo é arte. Não é exatamente a "Mona Lisa", embora neste caso possa ser o casamento de Mona e Lisa.

O caso começou como uma ação preventiva, para Smith poder colocar em seu site um aviso de que não faz sites para casais gays. Ela então levou a questão aos tribunais, mesmo que um casal gay não tenha solicitado o trabalho dela. Isso faz o processo se parecer com Putin entrando na Justiça para recusar o Nobel da Paz. Ou Bolsonaro com um processo para poder ficar de fora das duas próximas eleições.

Mas como o caso seguiu, e o Estado se moveu para rejeitar a ação, pois Smith não havia sido prejudicada, os advogados dela alegaram que ela havia, sim, recebido uma oferta para criar um site para um casal gay. Forneceram então uma solicitação de serviço, mencionando no processo um telefone e um e-mail dos supostos clientes. Quando o homem listado foi procurado pela mídia, porém, ele negou ter feito o pedido.

REVIRAVOLTA NA TRAMA! Ele e sua esposa, casados há 15 anos, ficaram pasmos. DUPLA REVIRAVOLTA! Afinal, ele é um web designer e teria feito ele mesmo seu próprio site. TRIPLA REVIRAVOLTA!

Os advogados de Smith alegam que não falsificaram o pedido e que ele poderia ter sido feito por um troll, como já aconteceu em casos passados nos quais atuaram. Um troll ter feito o pedido faz sentido, já que tudo isso soa suspeitosamente mitológico. Talvez tenha sido uma fada ou um ciclope? Talvez um deus cristão-evangélico-grego devoto?

Caso o malandro seja Smith ou um minotauro particularmente homofóbico, a decisão da Suprema Corte desferiu um novo golpe aos direitos humanos e, para tal, usou um caso baseado em uma (suposta) mentira para estabelecer um precedente preocupante. Pessoalmente, acho que a identidade não deveria influenciar na igualdade perante a lei. Um designer deveria ter que fazer um site de casamento gay para qualquer pessoa, não importa quais sejam as circunstâncias! Mesmo que ela seja heterossexual.

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