David Wiswell

Escritor, roteirista e comediante americano

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David Wiswell
Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump é como o rei Midas, tudo que toca é indiciado

Sob acusações nos termos da Lei de Espionagem, ex-presidente é como James Bond, se 007 fosse seu QI

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Após o histórico primeiro indiciamento estadual de um presidente americano, Trump passou por outro indiciamento histórico, agora acusado de crimes federais. Imagino que depois disso ele vai partir para o nível global e em seguida para indiciamentos interestelares, em que reclamará da caça às bruxas feita por democratas ETs, que devem temer o plano de Trump de tornar a galáxia da Via Láctea "leitosa outra vez".

Conhecendo a dieta de Trump, ele tentaria converter a galáxia numa Via Doce de Leite. Por mais que eu me alegre em ver figuras como Trump ou Bolsonaro enfrentando consequências por seus atos, o medinho que tenho é que isso acabe os beneficiando, como um incêndio de gordura, que só aumenta quando você joga água em cima (e, também como um incêndio de gordura, Trump é em boa parte derivado de bacon).

O ex-presidente dos EUA Donald Trump após discursar em seu clube de golfe em Bedminster, no estado de Nova Jersey
O ex-presidente dos EUA Donald Trump após discursar em seu clube de golfe em Bedminster, no estado de Nova Jersey - Ed Jones - 13.jun.23/AFP

O indiciamento federal contém uma pilha de evidências: documentos, fotos, mensagens, testemunhas e até mesmo –que piada!— uma gravação de voz do próprio Trump explicando que, contrariamente ao que ele disse inicialmente, o sigilo dos documentos não tinha sido retirado. Com algumas acusações nos termos da Lei de Espionagem, Trump é como James Bond, se 007 fosse referente a seu QI.

Trump pode encarar 20 anos de prisão. Com dez comparsas presos, sua empresa indiciada e quatro investigações criminais, é como o rei Midas –só que em vez de virar ouro, tudo que toca é indiciado. Se ele conseguir encontrar, faria bem se avisasse seu pênis. Que, aliás, tecnicamente falando, também foi indiciado em abril por pagamentos supostamente feitos a uma atriz pornô para que ficasse calada.

Um dos comparsas que foi à prisão por Trump, Roger Stone, afirmou certa vez que "a política é o showbusiness para pessoas feias". A declaração comprova que Trump é um político rematado. Stone lhe ensinou seu manual político de converter atenção negativa em poder, e Trump usou essa lição para desenvolver seu tipo singular de autoritarismo, queixoso (e feio). Uma vez ele se descreveu como o presidente americano mais maltratado de todos os tempos, apesar de quatro presidentes terem sido baleados, sendo que o único rival político que está tentando assassinar Trump é o Burger King.

Como Hitler em sua festa de 15 anos, cada vez que ele enfrenta consequências por seus atos ele chora e se queixa de como as coisas são injustas, e então sua mãe lhe compra um pônei. Cada vez que ele reclama, converte seus fracassos em apoio de seus seguidores. O fato de a imprensa o maltratar (com razão) virou uma vitória eleitoral em 2016. Sua derrota eleitoral virou uma tentativa de golpe em seu nome.

Nas primeiras 24 horas após seu indiciamento estadual, ele arrecadou US$ 4 milhões, e sua popularidade nacional subiu de 25% para 31% desde as denúncias. Apesar de uma gravação em áudio de Trump admitindo que o que ele fez foi ilegal, uma sondagem da Reuters mostra que 81% dos republicanos ainda encaram esse indiciamento como politicamente motivado. Com as sondagens da Associated Press mostrando que apenas 23% dos americanos querem que Biden se candidate outra vez, isso tudo pode ser uma dádiva para Trump, mesmo que Biden esteja à frente dele nas pesquisas no momento.

Se métodos tradicionais como água não apagam um fogo de gordura, e privar o fogo de oxigênio o sufoca, acho que a única opção que nos resta é o... estrangulamento. Brincadeira! É privar Trump de seu oxigênio metafórico: a atenção negativa. É por isso que eu decidi, de agora em diante, sempre concordar com Trump. Acho ele fabuloso, o maior presidente americano de todos os tempos e, sobretudo... culpado.

Tradução de Clara Allain

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