Estava procurando um tema divertido para esta coluna de comédia política e encontrei: especialistas dizem que os Estados Unidos estão numa era prolongada de violência política! Isso é divertido, certo? (Se você gostar dessa, vai adorar minha ideia de programa de TV infantil em que abatemos animais!)
De acordo com a ACLED, projeto de dados e análise de conflitos armados, a violência política cresceu 27% globalmente de 2021 a 2022, e análise da Reuters mostra que a violência por motivos políticos atingiu o nível mais alto em meio século nos EUA. Minha teoria? Videogames!
Não é por acaso que tal comportamento só foi maior na década de 1970, no alvorecer de uma figura ameaçadora: Pac-Man! Somente um hippie anarquista sujo engoliria pílulas até ver fantasmas e tentaria escapar do vazio negro do labirinto que é a sociedade.
Mas, se examinarmos os dados dos EUA, talvez haja algumas respostas para os problemas polarizados em todo o mundo.
O relatório da Reuters sugere que, embora os percentuais fossem mais altos nos anos 1960 e 1970, a violência se dava mais em danos materiais cometidos por radicais de esquerda, talvez inspirados pela canção de amor dos Beatles "I Wanna Hold Your Hand (Grenade)", algo como "quero segurar sua (granada) de mão".
Em contraste, essa onda atual consiste mais em ataques da direita contra pessoas. No meu entendimento, os ataques a propriedades indicam a falta de fé daquela geração no sistema, enquanto os de hoje, às pessoas, refletem uma falta de fé na própria humanidade.
Só nos últimos anos, extremistas de direita nos EUA se envolveram em tiroteios contra o FBI, tentaram sequestrar a governadora de Michigan, fizeram uma insurreição em Washington, hospitalizaram o marido de uma deputada, atacaram as redes elétricas de cidades e ameaçaram os supostos inimigos políticos de Trump, como Joe Biden, agências do governo, juízes, advogados e até membros de júris.
O fato de tantos terem decidido "tornar a América grande de novo", atacando americanos e o seu governo, lembra-me do meu evento beneficente contra o câncer, no qual só servi cigarros embebidos em plutônio.
A retórica borbulhante de líderes de direita e figuras da mídia desempenham um papel importante. Numa entrevista recente, Trump chamou os democratas de "animais" que "odeiam o país", e o entrevistador deu a entender que os democratas poderiam "matá-lo".
Esse diálogo exagerado e performático parece ter um objetivo: a desumanização do inimigo. Ao desumanizarem rivais, eles garantem o controle do seu público. É irônico que a desumanização seja a tática de alguém tão parecido com uma abóbora de peruca.
Por mais que meu instinto seja o de culpar apenas a direita, não parece que essa seja a história toda. Quando Trump ganhava destaque em 2016, muitos de seus apoiadores diziam se sentir abandonados pelo sistema e desprezados pelas "elites liberais". A então candidata democrata, Hillary Clinton, reagiu à ascensão de Trump chamando metade de seus apoiadores de "deploráveis" e "irremediáveis".
Ela os desumanizou, e grande parte da mídia fez o mesmo. Isso apenas reforçou suas preocupações e deu espaço a Trump para isolar totalmente seu público desses meios de comunicação. "Vejam! Eles realmente acham que vocês são idiotas. Eu sou o único ao seu lado."
A desumanização só ajuda os desumanos. Por isso, se entrarmos nesse jogo, em breve seremos governados por senhores-abóboras.
Minha sensação é a de que a única forma de travar os problemas crescentes de violência política no mundo é acabar com seu campo fértil: a mentalidade "nós contra eles" que interrompe a comunicação.
Assim, a única maneira de deter a desumanização é pela humanização. Talvez eu tenha um coração hippie, mas acho que a única forma de as coisas melhorarem é engolir nosso orgulho (e talvez alguns comprimidos), abraçar nosso inimigo e voltar a fazer algo mais produtivo como… destruir propriedades.
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