Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Descrição de chapéu inflação juros

Contradições econômicas do governo atrasam retomada do crescimento

Ambiguidade nas falas de Lula e de Haddad têm consequências negativas

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O governo tem mandado sinais em direções opostas. De um lado, Lula nega a importância do controle das contas públicas e ataca o mandato do Banco Central, que cumpre seu papel institucional de controlar a inflação. Do outro lado, Haddad relaciona a responsabilidade fiscal com as necessidades sociais da população, promete reforma tributária, ainda neste ano, e tenta amenizar as críticas feitas ao Banco Central. A ambiguidade provocada por essas falas têm consequências negativas que não deveriam ser ignoradas pelo governo.

Decisões econômicas são tomadas levando em conta os riscos envolvidos. Vale para tudo, seja para comprar um apartamento, seja para adquirir ações de uma empresa, seja para contratar novos funcionários. Para calcular os riscos, as pessoas levam vários fatores em consideração. A taxa de juros vai subir ou cair? O governo vai ser capaz de pagar suas dívidas? Qual vai ser o comportamento do dólar? Essas questões têm probabilidades que são mais ou menos conhecidas dos analistas. Contudo, quando a comunicação política dá sinais opostos, na mesma semana, e líderes de um mesmo governo se contradizem, a equação fica mais complexa.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o presidente Lula, no Palácio do Planalto - Adriano Machado - 12.jan.23Reuters

O contexto das decisões deixa de ser apenas arriscado, como toda decisão é sempre, e se torna também ambíguo. Ou seja, não se conhecem as probabilidades ligadas a cada situação. Quando Lula afirma que a taxa de juros está muito alta e que controlar a inflação não é tão importante, mas o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central afirmam o oposto, as pessoas ficam sem saber se: a) é apenas um discurso vazio de Lula, b) ele irá tomar alguma atitude concreta para mudar a política do Banco Central; c) ele vai indicar alguém que abaixe a Selic independentemente da inflação ao fim do mandato, o que altera o cenário de médio prazo.

Riscos integram toda decisão econômica e levam a decisões refletidas pelos agentes econômicos. Ambiguidade é um complicador artificial que amplia a incerteza e pode paralisar ou afugentar os agentes. Os seres humanos ficam muito desconfortáveis com situações de ambiguidade.

Ainda na década de 1960, Daniel Ellsberg interpretou os resultados de experimentos que demonstraram a nossa aversão à ambiguidade. Em um experimento, os participantes receberam duas urnas, cada uma contendo 100 bolas. Na urna A, havia 50 bolas vermelhas e 50 bolas pretas. Como o participante sabe qual a chance de retirar uma bola vermelha, o pote A é considerado uma opção "arriscada". Já a urna B podia ter qualquer número entre 0 e 100 de bolas vermelhas e o resto eram pretas; esta é a escolha "ambígua". Se for necessário escolher uma urna para ganhar um prêmio em dinheiro ao retirar uma bola vermelha, a grande maioria escolheria a urna A, a urna arriscada. Outros testes semelhantes corroboram a afirmação a respeito de o quanto os indivíduos são mais avessos à ambiguidade do que avessos ao risco.

O governo parece desconsiderar o desconforto e a dificuldade que sua estratégia de comunicação impõe não só sobre o mercado mas sobre qualquer um que precise tomar uma decisão econômica relevante. Além disso, já há sinais de que os agentes se preparam para o pior cenário: prevê-se aumento de juros e persistência da inflação. Situação que, caso se concretize, vai piorar a vida de todos os brasileiros, em especial a população mais vulnerável.

No meio de tantos sinais trocados, vale salientar a clareza com a qual o Comitê de Política Monetária (Copom) explicou a decisão de manter a Selic em 13,75% ao ano. Apesar de permeada de termos técnicos, a ata afirma que a conjuntura de incerteza quanto à condução dos gastos e à redução da dívida pública dificulta a capacidade do próprio Banco Central em controlar a inflação. Isto é, se o governo não adotar uma postura responsável com as contas públicas, é provável que haja mais pressão de aumento de preços e, consequentemente, da taxa de juros para controlar a inflação e levá-la para a meta.

Caso o governo ignore a necessidade de levar responsabilidade fiscal a sério, a taxa de juros e a inflação seguirão altas, dificultando a geração de emprego e corroendo o carrinho de compras, respectivamente. Logo, passaremos a ter um governo sem responsabilidade social.

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