Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Deborah Bizarria

O debate público não fica mais na zona sul do Rio

Novos atores de origens diversas ganham seu próprio palco com redes sociais e mídia alternativa

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No programa Roda Viva da última segunda-feira (8), a atriz e escritora Fernanda Torres tratou da própria trajetória e sobre o estado do debate público atual: "A figura do intelectual libertário, hoje em dia, virou um privilégio de alienado. Não é que o mundo ficou mais careta, o mundo ficou mais violento, mais argentário, menos utópico. Quem tá meio perdido hoje é o intelectual branco libertário. São pessoas como eu".

A reflexão de intelectuais e artistas como a Fernanda Torres sobre o próprio lugar, histórico e possíveis vieses é importante na medida em que muitos deles se viam como a voz da opinião pública. Afinal, durante muito tempo só essa voz tinha espaço na grande mídia e nas artes.

Mãos seguram celular com ícones de likes
Pluralidade de opiniões políticas aumenta a possibilidade de discussões e tensões - Catarina Pignato/Folhapress

Com as redes sociais e a pulverização de meios de comunicação alternativos, novos atores de origens diversas ganharam o próprio palco. Essa ampliação de vozes promove a pluralidade, a diversidade, a participação e a deliberação na esfera do debate público. Ao dar voz aos que antes eram silenciados ou ignorados, há maior inclusão política e reconhecimento de segmentos historicamente subalternizados.

A diversificação de vozes também precisa ser acompanhada da diversificação de visões de mundo. Na prática, precisamos não só ver mais minorias ocupando esses espaços, mas também mais pessoas conservadoras e tradicionalistas expondo seus pontos de vista em meios progressistas e vice-versa. Ao mesmo tempo, há também mais margem para o dissenso. Com as paixões e identidades ligadas a visões políticas, a tendência é um aumento de conflitos, tensões e polarizações entre as vozes divergentes ou opostas, dificultando encontrar pontos em comum.

Uma prática que adoto ao sentir muita irritação durante uma discussão é questionar inicialmente se a proposta da pessoa viola gravemente algum direito humano ou se envolve alguma revolução violenta para tomar o poder. Nesses casos costuma não valer a pena seguir a conversa.

A partir disso, busco compreender a fonte da irritação, seja devido a considerar uma ideia absurda ou se o interlocutor ataca indiretamente algum valor ou característica minha. Este processo também envolve a reflexão sobre meus próprios preconceitos: será que meu gênero, profissão, origem, ideologia e crenças estão influenciando a discussão? Tento seguir esse caminho porque, como apontou a atriz na entrevista, o mundo é muito maior que a nossa própria bolha.

Não vou mentir, nem sempre há uma resolução pacífica. Às vezes só paro de discutir e volto a alguma demanda de trabalho ou da vida. Mas tem também aqueles momentos em que o outro reconhece que te interpretou mal ou, ainda que discordando, reconhece suas boas intenções. Confesso que é por esses momentos de esperança que eu ainda engajo em debates nas redes.

Já no lado institucional, mudanças precisam ser feitas. Uma regulação é necessária para incentivar a transparência e a responsabilização das plataformas e dos influenciadores, como forma de melhor combater os crimes que possam ocorrer nesses âmbitos.

Como sociedade, precisamos definir regras que ampliem a possibilidade de participação do debate para além da polarização dos ânimos e não que busquem limitar ou cercear opiniões.

Portanto, a ampliação de visões no debate público pode ser tanto uma oportunidade de democratização de ideias quanto um risco a partir da deterioração das relações. Cabe a nós aproveitar a oportunidade e minimizar o risco, por meio de estratégias que valorizem a pluralidade, mas também a qualidade e a civilidade das vozes que compõem a nossa democracia.

Erramos: o texto foi alterado

No Programa Roda Viva de segunda-feira (8), a atriz e escritora Fernanda Torres afirmou que o mundo ficou "mais argentário", não "mais argentino". 

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