Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Sem dever de casa, inteligência artificial vai aumentar a desigualdade

Dados recentes do FMI expõem preocupação pela substituição da mão de obra humana

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O rápido avanço da inteligência artificial no mundo, ao mesmo tempo que empolga pelas novas possibilidades, preocupa pela substituição da mão de obra humana.

O mais recente relatório do FMI destaca que a exposição dos empregos à IA é significativa, com cerca de 41% dos trabalhadores brasileiros inseridos em ocupações de alta exposição à tecnologia.

Arte mostra robô com o braço erguido ao lado da mensagem de inteligência artificial
FMI diz que inteligência artificial ameaça 40% dos empregos - Dado Ruvic/Reuters

Ou seja, uma grande parcela da população realiza atividades que serão muito provavelmente substituídas, ao menos parcialmente, por IAs a medida que as capacidades dos robôs em desenvolvimento continuam aumentando.

Os dados também indicam que há uma dualidade no impacto dessa transformação tecnológica: os mais vulneráveis são os que podem ter maiores ganhos ao conseguirem se adaptar. Por exemplo, mulheres e trabalhadores altamente educados no Brasil são consistentemente identificados como mais expostos à IA.

Com forte presença no setor de serviços, as mulheres enfrentam uma exposição maior, enquanto os trabalhadores altamente educados, frequentemente engajados em ocupações intensas em uso cognitivo, também estão entre os mais expostos. Para aqueles que conseguirem utilizar as ferramentas para auxiliar o próprio trabalho, o relatório aponta para aumento significativo de salários.

Além das questões de renda, a IA tem o potencial de remodelar a distribuição de riqueza e renda no Brasil. Os ganhos de produtividade impulsionados pela IA podem aumentar os rendimentos salariais para uma ampla gama de trabalhadores, contribuindo para um aumento na renda total.

No entanto, a possibilidade de uma intensificação na desigualdade de renda também é um risco, especialmente para os assalariados de alta renda. Conforme indicado por simulações de modelo que sugerem um aumento desproporcional nos rendimentos desses trabalhadores, enquanto aqueles que preferirem permanecer ou ingressar em postos de trabalho menos expostos a tecnologia terão salários menores.

Essa avaliação se dá em um contexto em que a educação brasileira não consegue entregar bons resultados. No último resultado no Pisa, apenas 1% dos alunos atingiram notas consideradas ideais em matemática, contrastando com a média da OCDE de 9%.

Esses números evidenciam a disparidade do país em relação a padrões internacionais. Dos participantes brasileiros, 73% ficaram abaixo do nível mínimo de proficiência, indicando uma significativa lacuna na aplicação de conceitos matemáticos para resolver problemas do dia a dia. Se nossos jovens têm essa dificuldade com conceitos básicos como poderão utilizar a IA de forma produtiva para suas carreiras?

O estágio de desenvolvimento econômico do Brasil influencia diretamente sua preparação para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades da IA. Embora o país esteja exposto à tecnologia, sua infraestrutura inadequada, a falta de habilidades especializadas e a ausência de estruturas institucionais podem colocá-lo em risco de desvantagem competitiva em relação a economias mais avançadas.

No contexto brasileiro, políticas proativas são essenciais para garantir a coesão social durante essa transição tecnológica. Ganhos de produtividade esperados a longo prazo devem ser equilibrados com medidas para mitigar o deslocamento de empregos e ajustes na distribuição de renda.

O treinamento de trabalhadores para as demandas da nova era tecnológica é crucial, e políticas inclusivas e éticas são necessárias para garantir que os benefícios da IA sejam compartilhados de maneira equitativa. A capacidade do Brasil de abraçar os benefícios potenciais da inteligência artificial dependerá, portanto, de investimentos estratégicos em infraestrutura digital e capital humano.

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