Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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O preço do networking: O impacto negativo de contatos de alto status para mulheres

Conexões são essenciais para avançar na vida profissional, mas processo é desigual

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Todos sabemos que o famoso "networking", ou a construção de redes de contatos profissionais e sociais, é uma ferramenta poderosa na carreira de qualquer indivíduo.

Essas conexões são essenciais para avançar na vida laboral, oferecendo acesso a oportunidades, conhecimento e perspectivas novas. Mas esse processo é igualmente benéfico para todo mundo?

Diversos estudos destacam os benefícios das conexões e do capital social, incluindo melhorias em status, promoções e aumento salarial.

No entanto, muitas dessas pesquisas focam em amostras majoritariamente masculinas, em geral presumindo que os resultados aplicáveis aos homens possam ser estendidos às mulheres sem distinção.

Pesquisas sobre networking focam em amostras majoritariamente masculinas - Adobe Stock

Então, para explorar os efeitos específicos da formação de redes tanto para homens quanto para mulheres, Siyu Yu e Catherine Shea realizaram uma análise detalhada.

Na pesquisa, os participantes avaliaram o nível de respeito e influência dos seus colegas de trabalho e identificaram também as suas redes. O status de cada um foi calculado como uma média das avaliações que recebeu, incluindo a avaliação das pessoas dentro de cada rede de contatos.

Assim, foi possível avaliar os impactos do gênero sobre relações instrumentais, ou seja, aquelas que demandam auxílio profissional ou acesso a outros recursos.

Os resultados revelam que as conexões instrumentais com indivíduos de alto status tendem a diminuir o status das mulheres em grupos, em comparação com conexões com indivíduos de baixo status ou a ausência de tais conexões.

Ou seja, as mulheres recebiam uma punição ao adquirir maior capital social. Como explicar esse fenômeno?

Yu e Shea reforçam a noção de que a obtenção de atenção de pessoas de alto status exige a iniciação assertiva de interações e a solicitação de informações e recursos em um ambiente competitivo.

No entanto, quando mulheres são percebidas como assertivas e impositivas, tendem a ser vistas como antipáticas e de baixo status, uma repercussão da cultura na qual se espera das mulheres, mais do que dos homens, a priorização das necessidades dos outros em detrimento de seus próprios interesses.

Assim, presume-se que uma mulher focada em construir uma rede centrada em indivíduos de alto status esteja agindo em benefício próprio, em prejuízo aos demais.

Diante desse cenário, surge a questão: como as mulheres podem obter conexões de alto status sem enfrentar represálias? O estudo propõe uma estratégia: sinalizar os benefícios para o grupo.

Em um experimento, os participantes avaliaram uma mulher fictícia que buscava construir uma rede com pessoas de diferentes níveis de status em sua unidade de trabalho. A um grupo de participantes, não foram fornecidas informações sobre seus motivos, levando-os a preencher as lacunas com estereótipos e a avaliá-la como demasiadamente dominante e insuficientemente gregária, diminuindo seu status como consequência.

Contudo, para outro grupo de participantes, uma informação crucial foi revelada sobre seus motivos ao cultivar sua rede: o objetivo do networking seria beneficiar e promover os interesses de seu grupo.

Nesse contexto, os efeitos de represália desapareceram, e a mulher foi considerada de status mais alto.

Portanto, nem tudo está perdido. Análises adicionais dos mesmos pesquisadores indicam que conexões com pessoas de alto status através de relações expressivas como amizades e apoio social, por exemplo, tendem a acarretar menos custos de status para mulheres. Isso em comparação com redes instrumentais de alto status, que incluem buscar conselhos, solicitar recursos e formar alianças políticas.

Logo, líderes e gestores podem incentivar os funcionários a desenvolverem laços expressivos com indivíduos de alto status.

Adicionalmente, organizações podem reestruturar as oportunidades de networking de maneira a sinalizar explicitamente o senso comunitário.

Por exemplo, eventos de networking poderiam ser reinventados como encontros de almoço em grupo, promovendo uma atmosfera mais inclusiva para mulheres e pais que trabalham.

Reconhecer e superar estereótipos de gênero é crucial para todos os profissionais, promovendo a formação de conexões significativas que vão além do benefício pessoal, focando na qualidade, confiança e apoio mútuo.

Esse enfoque não apenas apoia o avanço das mulheres nas redes profissionais mas também enriquece o tecido social e profissional como um todo, garantindo que o poder do networking seja benéfico independentemente do gênero.

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