O oposto do liberalismo é o estatismo, a crença de que o governo do Brasil, da Venezuela, dos Estados Unidos ou da Rússia deve conduzir a economia. Os estatistas mais ferrenhos acreditam que o Estado também deve guiar o resto da sociedade, ao estilo de Xi Jinping na China, ou ao estilo Big Brother em "1984", de Orwell.
Há muito tempo, as pessoas comuns acreditavam, corretamente, que naquela época o governo roubava dos pobres e dava aos ricos. Agora, muitas pessoas acreditam que o Estado pode reverter o fluxo. Em uma era democrática, essa é a promessa populista, ao estilo Bolsonaro de um lado e ao estilo Lula do outro. Robin Hood por toda parte.
Mas mesmo pessoas que sabem que a mera redistribuição não ajuda muito os pobres, falando quantitativamente, e sabem que o que importa é o tamanho do bolo, acreditam no estatismo. A maioria dos economistas o faz.
Há cerca de um século, economistas de todo o mundo se tornaram cada vez mais confiantes em que sabem guiar, conduzir, impulsionar, corrigir e administrar a economia. Economistas de Keynes a Raul Prebisch e Mariana Mazzucato acreditam que interferências inteligentes em trocas voluntárias e inovações podem render mais bolo para todos. Viva.
A justificativa científica é a "dupla alegação estatista". Primeiro, os mercados exibem enormes imperfeições, tornando o bolo muito menor —monopólio, externalidades e desemprego. Em segundo lugar, o Estado pode intervir, aconselhado por economistas inteligentes, e consertar as imperfeições. Conclusão? O Estado deve ficar cada vez maior e maior, assumindo cada vez mais responsabilidade por nossas vidas. Devemos nos tornar filhos do Estado mamãe e papai.
A dupla alegação revive as antigas alegações pré-liberais de que o rei, a aristocracia ou os sacerdotes sabem como, e realmente pretendem, tornar uma sociedade próspera, gloriosa e sagrada. E pelas mesmas razões pelas quais as antigas alegações estatistas eram científica e factualmente erradas, a nova também o é.
Surpreendentemente, considerando sua autoconfiança cada vez maior, os economistas nunca demonstraram cientificamente que as imperfeições nas trocas são grandes. E da mesma forma nunca demonstraram que os Estados podem consertar as imperfeições.
Você não acredita nisso. Mas um grupo eminente de economistas, embora muito pequeno, entre eles os Nobéis James Heckman e William Nordhaus e, de certa forma, Angus Deaton, sabe que é verdade.
Incrivelmente, o trabalho científico quantitativo para estabelecer a dupla alegação desapareceu. Hã?
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.