Deirdre Nansen McCloskey

Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

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Deirdre Nansen McCloskey

O Iluminismo da Razão foi um hobby de pouquíssimas pessoas

O liberalismo não é apenas raciocínio; e o raciocínio pode levar ao fascismo

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Você ouvirá falar que o mundo moderno surgiu do Iluminismo, no século 18.

Por exemplo: o meu querido amigo, o grande historiador econômico Joel Mokyr, diz isso, afirmando que a economia moderna emergiu do lado científico do Iluminismo. Ele fala de um "Iluminismo industrial".

O grande estudioso moderno do Iluminismo de forma mais geral, Jonathan Israel, atribui o liberalismo político ao que ele chama de Iluminismo Radical, especialmente do antiteísta Spinoza.

Entretanto, ambos estão enganados.

Estamos todos muito felizes por termos tido um Iluminismo. Tornarmo-nos céticos quanto à infalibilidade da Bíblia, e aprender que existem mais elementos do que terra, ar, fogo e água, nos tornou mais racionais sobre algumas coisas; sobre algumas coisas, mas não sobre todas elas, você notará —como a política.

Mesmo assim, é bom ter pessoas inteligentes investigando premissas até então inquestionáveis.

Mas não foi esse lado francês e racional das novas ideias o que mais importou. Foi o novo lado escocês da liberdade. O que Adam Smith chamou de "o sistema óbvio e simples de liberdade natural" foi muito mais importante na construção do mundo moderno do que a mera convicção de que agora somos racionais e antes não éramos.

Immanuel Kant, em quadro de Gottlieb Doebler de 1791 - AFP

Por um lado, a convicção é falsa. Sempre houve pessoas, de Buda a Galileu, dispostas a tentar corajosamente usar seus corações e cérebros contra as convenções.

Estudiosos e pensadores livres, para o bem ou para o mal, são comuns à sociedade humana, caso contrário, nada muda.

Por outro lado, o Iluminismo da Razão foi um hobby de pouquíssimas pessoas, como Spinoza, em Amsterdã, ou Thomas Jefferson, na Virgínia. Não foi um movimento de massa para se tornar racional. Veja, novamente, Bolsonaro ou Maduro.

Por outro lado, foi o passatempo particular de tiranos como Frederico, o Grande, que tocava flauta muito bem, e Catarina, a Grande, que encheu sua corte de matemáticos.

Esse mesmo Thomas Jefferson tinha escravos. Ele certamente era esclarecido e falava um bocado sobre liberalismo. Falava.

Não, o que tornou o mundo moderno, permitindo que o filho de um fabricante de selas para montarias como Immanuel Kant reorientasse a filosofia ocidental, foi o liberalismo.

O liberalismo, decididamente, não é apenas raciocínio. O raciocínio pode levar ao fascismo. O raciocínio deve decorrer da convicção de que todos merecem o que Kant chamou de "autonomia", autogoverno.

Adultismo.

Tradução de Luiz Roberto Gonçalves

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