Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Feira do Livro em São Paulo mostra força da escrita frente às concessões

Eventos como esse são necessários numa cidade que não integra sua população no debate sobre monumentos históricos

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Quem se preocupa com o patrimônio público paulistano recebeu com imensa preocupação as imagens de demolição das arquibancadas do estádio municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. Trata-se de uma concessão à iniciativa privada sobre a qual pouco foi explicado e cujos benefícios para a população da cidade não estão claros.

Público visita a Feira do Livro no Pacaembu, em São Paulo - Ronny Santos/Folhapress

Qual será a finalidade do espaço, quais setores da sociedade civil participam do debate, qual o retorno em face da concessão desse monumento histórico? A prefeitura poderá fazer eventos públicos para o erário e a população? São algumas poucas perguntas entre tantas que podem ser feitas.

De qualquer forma, as coisas não foram muito bem esclarecidas, apesar dos envolvidos na concessão dizerem que o espaço será democrático e inclusivo. Uma maior atenção é exigida, pois a concessão do estádio, do centro esportivo e, possivelmente, da praça Charles Miller irá perdurar por, pelo menos, por 35 anos.

A área é muito importante para a cidade e a ela deve servir. Há um investimento histórico no lugar, como também vários em curso, sendo o principal o metrô logo na saída da praça Charles Miller, com importante investimento público envolvido e entrega prevista em 2025. Será um lugar na memória da cidade, acessível e belíssimo. Não pode ficar restrito apenas a um segmento da população. Dito isso, quais são os cuidados do poder público para evitar que isso aconteça?

E é na praça Charles Miller que um marco da cena cultural paulistana está em curso —a Feira do Livro. Até domingo, a praça será o endereço de mais de cem editoras, livrarias e bancas a céu aberto. A programação envolve escritores e escritoras nacionais e internacionais que se apresentam na praça e no Museu do Futebol.

A empolgação no meio literário é grande. São Paulo é sede de feiras de livro universitárias e da Bienal do Livro, eventos da agenda das editoras brasileiras e que cumprem um papel comercial muito importante. Mas o charme do local e o propósito da programação inscrevem o evento no rol das mais promissoras atividades da agenda cultural de São Paulo nos últimos anos. E aqui é necessário parabenizar Paulo Werneck, presidente da associação e da revista Quatro Cinco Um.

Sua primeira edição é realizada no centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, que marcou a história cultural da cidade. Aquela semana, embora celebrada pelo seu caráter supostamente transgressor, não transgrediu a ponto de incluir a população negra.

Esse fato, certamente, não retira completamente seus méritos, mas a contextualiza. Mesmo em seus momentos de dita rebeldia, o país seguiu firme com seu pacto narcísico branco, na expressão de Cida Bento, colunista deste jornal e autora do livro com o mesmo nome pela Companhia das Letras.

A resistência da negritude brasileira seguiu atravessando o século e nesta semana de 2022 estão confirmadas escritoras negras e negros do porte de Oswaldo de Camargo, Leda Maria Martins, Edson Cardoso, Jeferson Tenório, Juliana Borges, Marcelo D'Salete, Miriam Alves, Renato Noguera, Preta Ferreira, Stephanie Borges, entre outras e outros.

São importantes nomes da literatura de ficção, não ficção e infantil que fazem parte de uma revolução negra contemporânea no mercado editorial. Sem esquecer que há muito para avançarmos, devemos comemorar o quanto já avançamos.

E é importante frisar também o quanto iniciativas editoriais com protagonismo de pessoas negras forçou o mercado editorial a olhar para essas demandas e aumentar os livros escritos por autores negros em seus catálogos.

Entre os convidados e convidadas, estão Lilia Schwarcz, Ailton Krenak, Xico Sá e mais um timaço que marca o nome na história da cena literária da cidade ao participar dessa primeira edição. Os eventos são todos gratuitos.

Minha participação na Feira do Livro está confirmada para esta sexta, às 19h. Farei o lançamento de "Cartas para Minha Avó", meu livro mais recente, com mediação da jornalista Adriana Ferreira. A obra é um livro de memórias em que converso com minha avó Antônia sobre minha vida, desde a infância no quintal de sua casa em Piracicaba, passando pela adolescência e vida adulta.

É um evento muito especial para mim, pois será meu primeiro lançamento presencial do livro, que foi publicado durante a pandemia. Fico feliz que seja em um momento tão marcante para a cidade de São Paulo.

São Paulo estava precisando de um evento desses.

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