Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Djamila Ribeiro
Descrição de chapéu Todas

Uns dias em Washington

Conheci o sensacional National Museum of African American History and Culture

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Acho que colegas colunistas semanais de jornal vão concordar comigo sobre o desafio que é manter um espaço como este. A gente publica pensando no que dizer na próxima semana.

Esse desafio fica ainda maior quando a semana é agitada com compromissos que tomam nossos pensamentos. Nesta em particular, estou totalmente envolvida com uma viagem em curso, pois escrevo esse texto aqui de Washington, capital dos Estados Unidos, onde estou para receber uma láurea do Inter-American Dialogue, uma organização que reúne ex-presidentes, embaixadoras/es e dirigentes de agências multilaterais de países das Américas.

A láurea decorre do trabalho que é realizado no Instituto Feminismos Plurais, sobre o qual já escrevi nesta Folha, bem como pelo trabalho editorial pela publicação de livros escritos por pessoas negras.

Aproveitei para chegar alguns dias antes da homenagem, como gosto de fazer para ambientar. É a minha primeira vez na cidade e estou adorando passear por esses dias. Os museus são gratuitos e estive na National Gallery of Arts, o maior museu com obras que vão desde quadros de Van Gogh e Leonardo Da Vinci a coleções de artes indígenas. A Gallery ocupa dois prédios, que são interligados por um túnel com café e lojinhas. Um passeio com calma leva horas e vale muito a pena.

Saindo de lá, fui recebida na Embaixada do Brasil em Washington. Conversamos sobre a cerimônia e a homenagem, bem como pude conhecer alguns projetos. Um deles no qual a embaixada está envolvida chamou minha atenção: a articulação de um grupo de mulheres brasileiras cientistas que fazem carreira acadêmica nos Estados Unidos. São mais de dois milhões de brasileiros no país, sendo contemplados por mais de dez unidades diplomáticas em diversas cidades.

Pensei que aquela conversa seria o último compromisso do dia, mas então a embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti, fã de blues, recomendou que fosse ao bar Blues Alley, referência da cidade. Washington é uma cidade negra e o bar fica no bairro de Georgetown, símbolo da cultura local. Foi uma ótima experiência.

A ilustração traz a imagem de Djamila Ribeiro caminhando, ela é uma mulher negra, usa óculos, tranças presas em coque, um casaco azul, uma bolsa tiracolo marrom, calça e sapatos brancos. Ao seu redor elementos como flores e o capitólio de Washington D.C compõem a imagem.
Ilustração de Aline Souza para coluna de Djamila Ribeiro de 9 de novembro de 2023 - Aline Souza/Folhapress

No dia seguinte, seguindo a dica do meu amigo Adilson Moreira, estive no National Museum of African American History and Culture. O prédio inaugurado durante o governo Obama tem seis pisos de exposição que organizam e contam a história da população negra nos Estados Unidos, desde o início do comércio transatlântico até os dias de hoje. É um passeio que demandou uma antecedência nos ingressos, que devem ser adquiridos antes, pois mesmo o museu sendo gratuito é sujeito à lotação.

E não é para menos. Trata-se de um passeio sensacional, uma coleção impressionante e um estudo que esmiuçou o contexto, as consequências e a resistência à escravidão. Ali encontrei diversas turmas de alunos e alunas de colégio, além de pessoas negras que vêm de outros estados para prestigiar esse museu que é um motivo de orgulho por aqui.

Coincidentemente, ainda, encontrei na entrada do prédio Maria Marighella, presidente da Fundação Nacional de Artes, ligada ao Ministério da Cultura. Segundo me disse na conversa rápida que tivemos ali, ela estava em visita oficial para referências para o museu semelhante que está sendo desenvolvido no Brasil, no Cais do Valongo do Rio de Janeiro, em um esforço interministerial para preservação da memória. Ficam os desejos de boa sorte a todas as pessoas envolvidas nesse trabalho.

Saí do museu da história afro-americana nos Estados Unidos reflexiva por uma série de razões. Ali no térreo, fica o teatro Oprah Winfrey, nomeado em homenagem à grande apresentadora, que também foi uma das principais doadoras à instituição. São evidências como essa que me tocam sobre a importância do empoderamento financeiro da comunidade negra como uma forma de fortalecer o grupo a contar suas histórias.

Voltei correndo ao hotel para começar e finalizar esta coluna. Tragada pelas experiências na cidade, terminei compartilhando com vocês esse pequeno diário de bordo. Fico aqui até sábado, quando rumo para a Feira do Livro de Arequipa, no Peru.

Até semana que vem!

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