Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Dívidas e prejuízos perturbam legado da Olimpíada de Inverno

Seis meses após Jogos em PyeongChang, na Coreia do Sul, balanço gera polêmica

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O presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas Bach, destacou em seu pronunciamento na cerimônia de encerramento da Olimpíada de Inverno, em PyeongChang, na Coreia do Sul, que aqueles eram “os Jogos de novos horizontes”.

Passados cerca de seis meses, uma polêmica provoca ruídos na contramão daquela fala do dirigente. O "The Chosun Ilbo", um dos principais jornais da Coreia do Sul, revelou que os megaeventos —Olimpíada e Paraolimpíada— naquele país provocaram “dívidas massivas” à província de Gangwon, onde ocorreram competições.

O COI não perdeu tempo e rebateu na semana passada que ainda espera do comitê organizador dos Jogos o anúncio de um superavit, segundo informou o site Insidethegames, especializado na cobertura do movimento olímpico internacional. Antes, em julho, Christophe Dubi, diretor executivo da entidade, havia dito que dados financeiros detalhados, a serem revelados em breve, mostrariam um saldo positivo de vários milhões de dólares. É questão de dias para a verdade despontar.

Notícias negativas dessa natureza preocupam o COI porque o gigantismo alcançados pelos Jogos nas últimas décadas aumentou assustadoramente os custos para organizar os eventos. Em consequência, caiu o interesse das cidades para abrigá-los. A resposta da entidade foi aprovar normas com menos exigências, reduzindo custos.

A nova política parece ter corrigido a rota. Entretanto, recentemente, o presidente Bach reclamou de que relatos de mídia não têm contribuído para superar a aparente falta de confiança de potenciais cidades anfitriãs dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Altos custos, corrupção e doping são notícias que afugentam candidaturas.

Choi Moon-soon, governador da província de Gangwon, afirmou ao jornal que há urgente necessidade da resolução de conflitos com a população local e atraso no pagamento de salários. O governo federal negou socorro financeiro, temendo pela abertura de um “mau precedente”. Gastos de manutenção das praças esportivas são criticados.

Sem receios, a Coreia do Sul assumiu o desafio de organizar os Jogos de Inverno. Afinal, acumulava a experiência e o sucesso da Olimpíada de Verão, em Seul-1988, evento maior e mais desafiador, quando participaram delegações de 159 países, com 8.391 atletas inscritos. Agora, os Jogos de Inverno tiveram 92 representações, com 2.925 concorrentes.

Os sul-coreanos aproveitaram o incentivo das normas criadas com o objetivo de barateamento da organização. O estádio utilizado para a abertura e encerramento, por exemplo, construído em PyeongChang ao custo de US$ 60 milhões (R$ 249 milhões), começou a ser desmontado logo após o final das competições.

A ideia foi evitar obras que se tornassem ociosas, com demanda de altos custos de manutenção. Nesse sentido, apesar dos cuidados com o futuro dos projetos, várias instalações passaram a preocupar a população.

Em fevereiro último, esta Folha registrou que PyeongChang havia estimado gastos de US$ 13 bilhões (R$ 54 bilhões) em infraestrutura e prejuízo de US$ 279 milhões (R$ 1,1 bilhão), e que já mostrava  questionamentos sobre o legado do evento. Valor alto, porém, bastante inferior ao de Sochi, na Rússia, quatro anos antes, de US$ 51 bilhões (R$ 212 bilhões).

No Rio, em 2016, os gastos alcançaram cerca de R$ 41 bilhões. O comitê organizador brasileiro ainda não fechou o balanço, mas acumula dívidas de pelo menos R$ 130 milhões com fornecedores, ex-empregados e consumidores. E não tem caixa para saldá-las.

Os três níveis de governo —federal, estadual e municipal— já descartaram a possibilidade de ajuda. A expectativa é de que nova atualização mostre um rombo superior a R$ 200 milhões. Em contrapartida, no ciclo finalizado pelo evento no Brasil, o COI faturou alto com direitos de TV, patrocinadores e marketing.

Vale a pena organizar Olimpíadas? Em PyeongChang, as Coreias do Norte e do Sul desfilaram juntas e retomaram negociações para reaproximação. A busca pela paz, é provável, talvez tenha compensado.

A festa olímpica é boa, mas dura pouco e costuma deixar um rastro de sacrifícios para as populações anfitriãs. E o Brasil ainda teve Copa na preliminar.

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