Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Edgard Alves

Boxe enfrenta risco de exclusão da Olimpíada ao eleger novo presidente

Dirigentes contrariam COI e decidiram eleger Gafur Rakhimov à presidência da Aiba

Gafur Rakhimov não tem aprovação do COI
Gafur Rakhimov não tem aprovação do COI - Alexander Zemlianichenko/AP
São Paulo

A cartolagem da Aiba (Associação Internacional de Boxe), responsável pelo esporte na Olimpíada, parece não temer as insinuações do COI (Comitê Olímpico Internacional) sobre as possibilidades de exclusão da modalidade dos Jogos caso não resolva sua crise de gestão.

Dívidas e corrupção foram apontadas na governança da Aiba, que esteve sob a direção do taiwanês Ching-Kuo Wu, nos últimos 11 anos e até o final de 2017. As irregularidades provocaram a interrupção da gestão.

Por causa disso, transparência é questão prioritária na lista de exigências do COI. E nesse aspecto acaba de ocorrer um ruído desafiador. Os dirigentes decidiram eleger Gafur Rakhimov, do Uzbequistão, à presidência da Aiba, cargo que ele vinha ocupando como interino.

O COI não queria Rakhimov, suspeito de ter ligações com o crime organizado na Ásia, segundo informações do Departamento de Tesouro dos Estados Unidos.

O uzbeque foi escolhido por 86 votos a favor contra 48 de Serik Konakbayev, do Cazaquistão, um dos seus vices e presidente da Confederação Asiática de Boxe, e que contava com a preferência do comitê olímpico.

O presidente da CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe), Mauro Silva, participou da escolha em Moscou. Votou em Rakhimov. Alegou que nome em lista nada significa, mais ainda quando não existe nenhum processo contra o uzbeque, responsável por um trabalho importante no comando da entidade.

Paralelamente à campanha eletiva, Gafur Rakhimov participou de avaliação de normas para a formatação do torneio de boxe de Tóquio-2020. Os estudos abrangeram novas tecnologias para aprimoramento dos protocolos em geral, resultados de dados e cerimônias, entre outros pontos.

O boxe estreou nas Olimpíadas em 1904, em St.Louis, Estados Unidos, apenas com pugilistas da casa, fato que acarretou críticas e reprovação. Além disso, o barão Pierre de Coubertin, idealizador e presidente do COI naquela oportunidade, abominava a modalidade por achá-la violenta, segundo registro no livro “Olimpíadas 100 anos”, de Sílvio Lancellotti.

A chamada “nobre arte” só voltaria ao repertório dos Jogos em Antuérpia-1920, na Bélgica.

As lutas de boxe sempre repercutiram positivamente pelas emoções que levaram aos Jogos. Nessa trajetória olímpica, porém, as polêmicas também estiveram presentes, principalmente por causa de questionamentos sobre violência e resultados controversos de lutas. A modalidade, no entanto, superou todos os debates.

Embora a opção por Rakhimov esteja na contramão da política do COI, dificilmente o boxe ficará fora dos Jogos no Japão. O planejamento do evento está avançado e o encontro dos dirigentes da Aiba em Moscou contou com representante dos organizadores de Tóquio.

Sinal de que o COI deve engolir goela abaixo o desafio da Aiba no curto prazo. Impossível é prever como a situação ficará depois, com a margem de tempo mais longa para os Jogos de Paris-2024 e Los Angeles-2028.

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