Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Edgard Alves

Dilema do Esporte passa por encruzilhada dos ministérios

Bolsonaro pouco abordou o tema esporte na campanha, mas colocou dilema no destino do setor

Bolsonaro ainda não definiu destino do esporte em seu governo
Bolsonaro ainda não definiu destino do esporte em seu governo - Tercio Teixeira/ Folhapress

Na campanha eleitoral o presidente eleito Jair Bolsonaro praticamente pouco abordou o tema esporte, mas colocou um dilema em relação ao setor com a proposta de reduzir o número de ministérios.

É que o esporte, hoje com ministério próprio, deve ser absorvido por órgão de outra área no novo governo, tornando-se apenas uma secretaria. Essa medida está sendo analisada por assessores da futura Presidência. Enfim, caso a hipótese se confirme, não há dúvida de que a influência do esporte na política governamental encontrará mais dificuldades.

Tal intenção deixa os esportistas em geral temerosos de um retrocesso na área. Os grandes eventos internacionais promovidos pelo país --Pan-07, Copa das Confederações-13, Copa do Mundo-14 e Olimpíada-16-- propiciaram incentivos e verbas governamentais generosas ao ramo esportivo nacional.

Com a crise econômica, porém, o setor sofreu restrições nos últimos dois anos, situação que pode piorar. Diante desse quadro, óbvio, fica mais complicado enfrentar as dificuldades sem a força de um ministério.

No domingo (18), Bolsonaro esteve no Parque Olímpico da Barra, no Rio, onde participou de uma cerimônia de entrega de medalhas de competição de jiu-jitsu --Abu Dhabi Grand Slam--, na Arena Carioca 1.  Certamente, o evento serviu para um leve aceno diplomático em direção aos árabes, após sua fala sobre mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, que causou muita polêmica.

Questões relacionadas ao esporte, no entanto, o presidente eleito aborda com cautela. Quando o assunto aparece, faz questão de destacar  sua condição de professor formado na Escola de Educação Física do Exército e de ex-atleta.

Já adiantou  que a atividade terá um espaço especial no novo governo, mas que ainda nada está decidido. Para Bolsonaro, o esporte tem um linguagem universal, com efeitos positivos na segurança, respeito, empregabilidade, auxílio para a boa saúde e no combate à criminalidade e drogas, além de criar uma hierarquia.

Isto posto,  Bolsonaro não parece preocupado em aplicar muitos recursos no desenvolvimento do esporte de alto rendimento, o de nível olímpico.  Sua visão estaria mais focada no trabalho de base e no esporte escolar. Mesmo assim, não há nenhuma garantia nesse sentido, pois a tendência do novo governo diante das dificuldades econômicas é enxugar investimentos públicos nas áreas sociais.

O atual ministro do Esporte, Leandro Cruz, por exemplo, manifestou sua preocupação em artigo nesta Folha. Para ele, eventual fim do ministério minaria a inclusão social. O esporte deve ter um órgão próprio para pensar políticas públicas e difundir programas, com receitas que atendam às necessidades.

Destacou ainda que a economia pretendida é inexpressiva, e a decisão causaria impacto negativo em todo o processo de gestão.  Boa parte do orçamento se destina a programas como Bolsa Atleta, CIEs (Centros de Iniciação ao Esporte) e repasses de recursos garantidos por lei ao COB (Comitê Olímpico do Brasil), ao CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) e ao CBC (Comitê Brasileiro de Clubes).

Cartolas e esportistas, no momento, concentram suas atenções nos bastidores de Brasília.  É lá que esperam por uma jogada decisiva, que assegure o respaldo do esporte no país.


 

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