Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Edgard Alves

Mortes de Kobe e Kalé fizeram tristeza bater forte no domingo

Com alegria e tristeza sempre de prontidão, o esporte segue arrebatando paixões

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Um dos mais extraordinários da história, definiu a NBA, a poderosa e milionária liga norte-americana de basquete, sobre o ex-jogador Kobe Bryant, morto na queda de um helicóptero em Calabasas, Califórnia.

A manifestação da liga foi precisa, pois é praticamente impossível apontar um astro onipotente no mundo dos esportes, quaisquer deles. A avaliação, no entanto, não deixou dúvida, elevou o ex-ala-armador ao pedestal dos maiorais de todos os tempos no basquete.

A tristeza bateu forte no domingo. Iniciou com a notícia da morte na véspera de meu ex-parceiro no futebol, Dorival Carlos Esteves, o Kalé, 71, o primeiro negro a jogar profissionalmente no Japão. Ele vivia em Americana, interior de São Paulo, desde o retorno do exterior em 2005. Passou mal e chegou ao hospital , mas não resistiu. 

Kobe Bryant, 41, esbanjou alta performance com sua magia, lances mirabolantes, agilidade corporal, saltos incríveis, inteligência e pontaria perfeita. Um dos seus pontos fortes, talvez o principal deles, era a obstinação que tinha na busca do aprimoramento, do lance irretocável, qualidade sempre presente nos fora de série pelos quais vale a pena pagar um ingresso.

Kobe estava sempre atento. Olhava em volta e via o que podia aprender. Quem o entrevistou, que acompanhou jogos e treinamentos, confirma essa teoria. Certa vez, por exemplo, Kobe pediu a um companheiro de seleção orientações sobre posicionamento defensivo. Passou o treino inteiro exercitando uma única jogada sob a batuta do colega.

Para contextualizar, vamos relembrar alguns pontos sobre a tragédia que resultou na morte de Kobe. Os demais oito ocupantes da aeronave acidentada também perderam a vida, entre elas uma das filhas do jogador, Gianna, 13, que se preparava para seguir a carreira do pai e era treinada por ele.

A garota levava jeito para o basquete. Especialistas acreditavam que era apenas uma questão de tempo para ela chegar ao topo da modalidade. Kobe deixou a esposa, Vanessa, e três outras filhas (Natalia, Bianka e Capri, ainda bebê).

As homenagens póstumas apontam para um ídolo dedicado à família. Mas uma face da trajetória de Kobe não escapou de críticas comportamentais. Muitas vezes suas atitudes eram incompreendidas pela sua obstinação pelo jogo, pela vitória e pelos pontos. Teve ainda um registro policial, na temporada 2003-2004, quando respondeu a processo criminal no Colorado por acusação de estupro de uma moça de 20 anos. Ele alegou ter sido uma relação consensual e o conflito terminou com um acordo extrajudicial.

Kobe não vacilou ao afastar uma possível carreira universitária para abraçar o basquete profissional. Por duas décadas, sempre com o Los Angeles Lakers, ele chegou aos 33.643 pontos, quarta maior pontuação da história da NBA. Alcançou ainda cinco títulos da liga e duas medalhas olímpicas de ouro (Pequim-2008 e Londres-2012) com a seleção dos Estados Unidos.

Fora das quadras, ele recebeu a badalada estatueta do Oscar do cinema pelo curta-metragem de animação “Dear Basketball”, baseado em um poema de sua autoria. Dirigiu a obra em parceria com Glen Keane. Isso dois anos após ter deixado de jogar em 2016.

Em síntese, Kobe foi um vencedor, uma estrela que queria brilhar mais e mais, tendo como ídolo o fantástico Michael Jordan. Um detalhe curioso foram suas ligações com o Brasil. Bem antes de chegar na NBA, conheceu o brasileiro Oscar Schmidt, apelidado de “Mão Santa”, outra das suas referências na modalidade.

A pontaria de Oscar nos arremessos atraiu a atenção do futuro astro, que acompanhava as performances do brasileiro no basquete da Itália. O pai de Kobe, Joe, também jogava lá, onde morava com a família.

Os tempos passados na Itália despertaram a atenção do jovem Kobe para o futebol, que admirava e acompanhava. Esteve no Brasil durante a Copa das Confederações, antes do Mundial. Conheceu vários brasileiros famosos, como Neymar, que prestou-lhe homenagem logo após saber do acidente. Admirava a carreira de Pelé. Mas foi mesmo com as mãos que desenvolveu sua arte.

A tragédia envolvendo Kobe levou à memória de outra, a da morte do croata Drazen Petrovic, 28, também de impacto internacional. O então ala-armador perdeu a vida num acidente automobilístico em junho de 1993, causando consternação no mundo dos esportes, em especial do basquete. Petrovic atuou pelas seleções da antiga Iugoslávia e da Croácia e, na NBA, pelo Portland Trail Blazers e pelo New Jersey Nets (atual Brooklyn Nets).

A seu modo, a partida de Kalé não deixa de ser emblemática. Eu o conheci em Botucatu, interior paulista, onde morávamos na década de 60 e fomos campeões juvenis pela Ferroviária local. Logo depois, perdemos o contato.

Antes, ele havia se tornado atleta profissional na própria Ferroviária, aproveitando a saída de Zé Maria (Lusa, Corinthians e Copa de 70). Talentoso, atraiu interessados. Jogou pelo Juventus, na capital de São Paulo, por pouco tempo. No Japão, converteu-se no primeiro negro a jogar no futebol daquele país, entre 1968 e 1973.

Ao portal Terceiro Tempo, tempos atrás, ele explicou: "Havia um negro jogando beisebol, e eles queriam um negro para o futebol e eu tive a sorte de ser o primeiro deles, se bem que havia o Nelson Yoshimura, mas ele era nissei, então eu fui o primeiro estrangeiro mesmo".

Kalé atuou como lateral-direito pelo Yanmar Diesel de Osaka (depois Cerezo Osaka) e ganhou o prêmio Chuteira de Ouro três vezes (em 1970-71-72). Era habilidoso e costuma jogar com um largo sorriso estampado, deixando à mostra os dentes brancos como neve.

Um dos filhos dele, Marcos Sugiyama  Esteves, também se destacou no esporte, no vôlei, com passagens como jogador no Brasil, no campeonato italiano e na seleção nacional do Japão.

Casos semelhantes aos citados provocam comoção. Quem não se lembra do episódio fatal do piloto Ayrton Senna? Apesar de tudo, com a alegria e a tristeza sempre de prontidão, o esporte segue arrebatando paixões, aplausos e vaias.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que foi publicado anteriormente, ​Drazen Petrovic atuou na NBA por Portland Trail Blazers e New Jersey Nets (atual Brooklyn Nets), e não por Portland e Denver Nuggets. O texto foi corrigido.

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