Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Se Copa América com Covid-19 é incompreensível, imagine a Olimpíada

O que acontecerá quando as delegações retornarem para casa?

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As dúvidas entre uma oportunidade segura ou um oportunismo irresponsável de realizar os Jogos Olímpicos de verão em Tóquio, a partir de 23 de julho, continuam instigantes sem qualquer garantia de segurança ampla diante da implacável e mortal pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e suas cepas.

Se a situação dos Jogos é extremamente perigosa e sensível para o mundo, o governo brasileiro faz ecoar ainda mais os temores diante da pandemia ao se oferecer para dar abrigo à Copa América de futebol, que começa no próximo dia 13 e vai até 10 de julho. O evento ainda depende de confirmação.

Aceitar esse inoportuno desafio é desrespeitar a população do país, que clama por assistência médica e social, alimentação e trabalho, além de chorar a morte de mais de 460 mil compatriotas.

Copa América, sem condições de ser realizada na Argentina e na Colômbia, está sendo levada ao Brasil, que se aproxima dos 500 mil mortos por Covid-19 - Juan Barreto - 3.dez.19/AFP

O Brasil, que vive tempos atabalhoados por trapalhadas governamentais, repletas de atitudes excêntricas, intempestivas e incompetentes dos seus mandatários, agora terá novos rombos para cobrir com a Copa América. Repete governos anteriores com gastos em grandes eventos internacionais de esporte, que caíram no esquecimento, sem legado.

Mesmo sufocado pelas crises econômica e pandêmica, o Brasil abriu seus braços para a Copa América, um mero torneio regional de futebol com dez participantes. O país socorreu a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), a responsável pelo evento, depois que a Colômbia, por causa da sua caótica situação social, e a Argentina, engolida pela crise sanitária, desistiram da incumbência.

A Copa América ganha eco mais negativo por ser disputada neste momento sensível da saúde mundial. Diante das incertezas da pandemia do novo coronavírus, a competição desperta polêmicas e pode destravar outro assunto relevante na atualidade, mas, inexplicavelmente, ausente no Brasil: debates sobre os riscos da Covid-19 na Olimpíada de Tóquio.

As grandes mídias, aparentemente interessadas nas oportunidades de negócios da Olimpíada no território japonês, têm driblado pautas sobre os riscos de cancelamento dos Jogos por causa das possibilidades da contaminação pelo corona.

Para os organizadores japoneses e para o COI (Comitê Olímpico Internacional), a programação do evento está mantida, independentemente de representar uma ameaça real e clara à saúde mundial, comprovada pelos índices de mortalidade em todos os cantos do planeta e no próprio Japão.

A Olimpíada e, logo a seguir, a Paraolimpíada, reunirão mais de duas centenas de países em suas disputas no Japão. O que acontecerá quando as delegações retornarem para casa? Quem evitará mortes por possíveis contaminações geradas a partir do evento cuja realização é pura loteria?

Pelo que se sabe até agora, não há nenhuma mágica ou medida possível para bloqueio da pandemia e garantia da segurança dos participantes. O presidente do COI, Thomas Bach, cancelou recentemente uma viagem a Tóquio. O risco de mortes tendo como causa o coronavírus está mantido, tanto que várias regiões do Japão continuam em estado de emergência.

Em média, cada delegação da Copa América terá pelo menos 30 integrantes, perfazendo um total de 300 pessoas. A partir daí, o número de participantes cresce exponencialmente, envolvendo trabalhadores em variadas atividades (seguranças, profissionais de saúde, motoristas, funcionários de hotéis, atachês, juízes, bandeirinhas, mesários, cartolas extras, entre dezenas de outros), além das equipes de mídia em geral (rádio, TV, jornais, internet).

Apenas parte desse batalhão estará coberta por vacina, que não imuniza 100%, mas ajuda a evitar situações mais graves. Para complicar, a população brasileira caminha longe de um índice razoável de imunização.

A Conmebol agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro, à sua equipe e à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) por concordarem com o evento no país, restando pouco tempo para a disputa naufragar inapelavelmente por falta de interessados em promovê-la.

Há empenho do governo e dos cartolas brasileiros para trazer a competição para cá. Esse interesse é tão incompreensível que dispensa comentários.

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