Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020 paralimpíadas

Calor deve provocar mudanças nas Olimpíadas do futuro

Cartolas do esporte mundial devem dedicar atenção ao clima

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Esta derradeira semana das Paralimpíadas de Tóquio parece mais suave do que sinalizavam as expectativas diante da pandemia do novo coronavírus, que havia provocado o adiamento da competição por um ano. A cerimônia de encerramento acontece no domingo (5).

Além da preocupação em manter a pandemia sob controle e da proibição da presença de público nos locais de competição, como ocorrera nas Olimpíadas poucos dias antes, os participantes dos Jogos Paralímpicos enfrentam altas temperaturas nesta época do ano (verão) no Japão. Não é nada tranquilo, exige esforços extras da organização e precaução dos participantes.

O comitê organizador relatou na segunda-feira (30) mais 11 casos de Covid-19 associados às Paralimpíadas, totalizando 241 desde 12 de agosto. Um balanço apontou ainda 866 mil testes de triagem em indivíduos olímpicos e paralímpicos desde 1º de julho, e a taxa de positividade de 0,03%, segundo informações atribuídas pela mídia japonesa aos organizadores.

Embora sem casos graves, ocorreram também 25 registros de doenças relacionadas ao calor nos cinco dias até 28 de agosto. Do total, 15 envolveram paralímpicos.

Altas temperaturas têm criado dificuldades em Tóquio - Kai Pfaffenbach - 2.ago.21/Reuters

O brasileiro Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) chamou esse quadro de “fantástico” e disse que a situação superou as expectativas. O estado de vigilância deve permanecer até o encerramento dos Jogos para garantir um ambiente seguro aos atletas.

As altas temperaturas em Tóquio ultrapassaram os 30º C todos os dias desde 18 de agosto. Na sexta (27), por exemplo, os termômetros atingiram 34,3º C, nível de calor que acarreta dificuldades para alguns atletas paralímpicos, principalmente aqueles que se recuperam de lesões na medula espinhal e têm mais dificuldade do que a maioria para controlar a temperatura corporal.

Como esse processo ocorre? Os nervos autônomos em pessoas com deficiência não funcionam adequadamente em calor forte, tornando mais difícil para o corpo transpirar ou expandir os vasos sanguíneos e assim reduzir a temperatura corporal. Essa explicação ao diário Asahi Shimbum é do chefe da seção de pesquisa para o tratamento de lesões da medula espinhal, Kanehiro Fujiyoshi, médico do Murayama Medical Center, do oeste de Tóquio.

O comitê organizador dos Jogos Olímpicos incentivou os atletas a fazer pausas frequentes e consumir líquidos e distribuiu tabletes de sal e sorvete para voluntários cansados. Banhos de gelo e ventiladores de névoa foram instalados em vários locais.

As informações são compartilhadas entre organizadores e comitês nacionais para determinar as prioridades de saúde dos competidores. Fujiyoshi indicou procedimentos para lidar com qualquer mudança repentina na saúde dos participantes das Paralimpíadas.

A Fundação Thomson Reuters explorou em reportagem de 29 de julho a avaliação de especialistas sobre as altas temperaturas na capital japonesa. Tóquio servirá como modelo, afirmou Yuri Hosokawa, especialista em esportes e riscos de calor da Universidade Waseda, no Japão.

O calor abafado –além da umidade– da capital japonesa pode ser um precursor da vida olímpica que está por vir, exigindo medidas conforme a mudança climática. A temperatura média anual de Tóquio aumentou 2,86° C desde 1900, cerca de três vezes mais rapidamente do que a média mundial de 0,96° C, revelou a Associação Britânica para o Esporte Sustentável.

Mike Tipton, da Universidade de Portsmouth, na Grã-Bretanha, um professor de fisiologia humana e aplicada, disse que o calor não apenas diminui o desempenho dos competidores de elite mas também representa graves riscos à saúde. Nas Olimpíadas, as maratonas, masculina e feminina, inicialmente programadas para Tóquio, preventivamente acabaram transferidas para Sapporo, no norte o país, região um pouco menos quente no período dos Jogos.

Belga Dieter Kersten recebe atendimento ao fim da maratona olímpica - Giuseppe Cacace - 8.ago.21/AFP

Os cartolas do esporte mundial devem dedicar atenção ao clima, buscando estações menos quentes para os eventos. Makoto Yokohari, consultor das Olimpíadas de Tóquio, ressaltou que a França teve ondas de calor recordes em 2019, com temperaturas de mais de 40° C, causando cerca de 1.500 mortes.

Portanto, os organizadores das próximas Olimpíadas e Paralimpíadas em Paris deverão levar seriamente em conta a questão climática, embora ambos os eventos já estejam programados para o período de julho a setembro de 2024. De todo modo, o alerta está dado pelos especialistas.

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