À medida que a abertura de um grande evento esportivo internacional fica mais perto, crescem e se tornam irrefutáveis as evidências de que política e esporte são inseparáveis.
Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno, agendados para fevereiro e março do ano que vem, em Pequim, na China, mostram com clareza como os dois movimentos se misturam, caminham juntos.
As Olimpíadas não são apenas um momento de esporte, paz e confraternização mundial entre os povos, reunindo num mesmo palco e momento delegações de dezenas de países como muitas pessoas pensam e defendem.
Sob o conceito de muita alegria e de emoção, as Olimpíadas são sempre uma promessa de disputas esportivas, sem canhões, com regras iguais para todos, embora disparidades econômicas provoquem desequilíbrio. Promessa, sim; realidade, nem tanto.
Os exorbitantes gastos para abrigar as competições, por exemplo, dependem de forças políticas. Por isso, governos usam e abusam de propaganda quando patrocinam grandes eventos esportivos.
Encobrem falcatruas com a fábrica de ilusões. A gastança, via de regra, atrapalha investimentos que seriam mais relevantes para as populações em geral.
Outra face das Olimpíadas é a abertura de portas para o oportunismo, quando parte dos protagonistas aproveita a chance de exposição proporcionada pelos Jogos para dar suas tacadas. São chances que se oferecem cobertas por um suposto manto do bem, mas pouco transparentes e que podem abrigar maldades.
Os chineses, que hoje praticamente estão ocupando a vanguarda da economia mundial e mantêm um regime político e social fechado, abrigarão as Olimpíadas pela segunda vez em apenas 14 anos.
Não deixa de ser uma prova de força. Pequim, a capital do país, vai se transformar na primeira cidade da história a ser sede dos Jogos em suas versões de verão (2008) e inverno (2022).
No turbilhão da política internacional, os Jogos Olímpicos de Inverno são um ponto vulnerável da China com a aproximação da abertura do evento, em 4 de fevereiro.
Os Estados Unidos aproveitam a oportunidade para pressionar o governo chinês por causa de denúncias de violações de direitos humanos. A cena esportiva virou política.
O presidente Joe Biden manifestou em novembro a intenção de não enviar nenhuma autoridade diplomática aos Jogos. A posição foi confirmada pela Casa Branca nesta segunda (6).
Os Estados Unidos acusam a China principalmente de crimes contra a humanidade em Xinjiang, na região da minoria étnica dos uigues (majoritariamente muçulmana).
O boicote, porém, não atingirá os atletas, que vão disputar normalmente as competições e terão apoio do governo. Outros países podem acompanhar a posição norte-americana. Grã-Bretanha, Austrália e Lituânia já se manifestaram nesse sentido.
A China, por sua vez, qualificou a ação dos EUA como "sensacionalista e manipuladora" e anunciou que prepara uma reação.
Enquanto isso, na última quinta-feira (2), 173 países da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovaram a resolução da Trégua Olímpica elaborada pela China e pelo COI na 76ª Assembleia Geral.
A resolução apela às diversas partes para que resolvam os conflitos internacionais por meios pacíficos e diplomáticos, exortando o cumprimento da Trégua Olímpica durante o período de sete dias dias antes da abertura dos Jogos até sete dias após o encerramento das Paralimpíadas.
Políticos ligados aos organizadores, grandes investidores no esporte e os cartolas defendem que se deva deixar o espírito olímpico iluminar os sonhos de jovens, impulsionar o desenvolvimento social e criar um mundo harmonioso e pacífico. É fato, mas também é certo que a política nunca fica fora do jogo.
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