Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Reta final da reforma tributária tem briga entre montadoras e êxito do grupo Stellantis

Manutenção de incentivo fiscal para carros a combustão feitos no Nordeste mantém alta rentabilidade de modelos Fiat, Jeep e RAM

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"A informação que acabo de receber é que, neste momento, lobistas da Fiat estão dentro do plenário. Isso é proibido e jogo baixíssimo!", dizia a mensagem enviada às 11h da manhã desta sexta (15).

O disparo foi feito pela assessoria de imprensa que representa as montadoras contrárias à prorrogação até 2032 das isenções fiscais a quem produz nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Naquele instante, os representantes das empresas beneficiadas tentavam garantir a inclusão na reforma tributária dos incentivos para produção de carros flex (motor a combustão), medida que beneficiaria principalmente o grupo Stellantis.

fábrica do grupo FCA Fiat Chrysler em Goiana, Pernambuco
Robôs atuam nas linhas de pintura e soldagem na fábrica do grupo Stellantis em Goiana, Pernambuco - Divulgação

Os concorrentes GM, Toyota e Volkswagen defendiam que a extensão deveria contemplar apenas os modelos híbridos ou 100% elétricos. O pleito fazia sentido, já que o incentivo aos eletrificados contemplaria a BYD, que vai produzir esses modelos na Bahia.

No fim, prevaleceu a tese defendida pelo grupo Stellantis: os custos logísticos e a necessidade de desenvolvimento regional justificariam a manutenção dos incentivos mesmo para automóveis dotados somente de motores térmicos. Tudo deve continuar como antes.

Do outro lado, as empresas que produzem veículos e peças nas regiões Sul e Sudeste alertavam para a perda de investimentos caso a desvantagem competitiva fosse mantida. É provável, contudo, que todos os aportes futuros sejam mantidos. A renovação de produtos é vital no mercado brasileiro, que tende a crescer em faixas de preço mais rentáveis.

A Volkswagen prepara o lançamento de uma nova picape compacta com cabine dupla, além de já ter negociado a prorrogação até 2028 dos acordos coletivos com sindicatos em São Bernardo do Campo, Taubaté e São Carlos, no estado de São Paulo, e em São José dos Pinhais, no Paraná.

Em agosto, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC afirmou que a empresa vai adicionar cerca de R$ 5 bilhões ao seu plano de investimentos, valor que será usado na montagem e no desenvolvimento de veículos híbridos.

A Toyota também deve manter os R$ 1,7 bilhão anunciados em abril. A marca vai produzir em Sorocaba (interior de São Paulo) um SUV compacto movido a gasolina, etanol e eletricidade.

Parte do dinheiro vem de créditos de ICMS liberados por meio do programa estadual ProVeículo Verde, que incentiva o desenvolvimento de veículos menos poluentes.

A montadora de origem japonesa deve receber R$ 1 bilhão ao longo dos próximos quatro anos como estorno desses créditos acumulados.

Entretanto, apesar de também ter acesso a alguns benefícios, as montadoras instaladas no Sul e no Sudeste afirmam que o pacote que favorece a Stellantis é exagerado. Por isso, as marcas do grupo seriam mais rentáveis no Brasil –o que não significa que as concorrentes deem prejuízo.

Mas se a agenda ambiental tivesse prevalecido, a fabricante das marcas Fiat e Jeep teria saído em desvantagem na discussão. Embora fale em lançar produtos menos poluentes nos próximos anos, sua principal novidade em 2023 tem somente versões a diesel ou a gasolina.

Trata-se da picape RAM Rampage. Produzida em Goiana (PE), custa a partir de R$ 244,8 mil e, certamente, é um dos veículos mais rentáveis do mercado nacional.

Para driblar críticas sobre sua estratégia no Brasil e ter êxito na campanha pró-incentivos, a Stellantis recorreu a uma agência de publicidade para contar seu lado da história.

"Estamos traçando a rota que o país seguirá rumo ao crescimento econômico e bem-estar social", dizia a carta publicada no dia 7 de dezembro e assinada por Stellantis, Caoa (marcas Chery e Hyundai) e HPE (Mitsubishi).

Foram movimentos como esse –além das intervenções durante a votação da Reforma Tributária no Congresso– que fizeram as concorrentes acusarem o grupo de fazer "jogo sujo", como na mensagem disparada na sexta.

Uma das mais revoltadas é a GM, cujos executivos têm dito que não se sentem mais representados pela Anfavea. O presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, é vice-presidente sênior de relações institucionais e jurídico da Stellantis na América do Sul.

Os ânimos podem ser acalmados nesta semana, quando o programa que substitui o Rota 2030 deverá ser, enfim, conhecido. Chamado Mover, o novo conjunto de regras para o setor automotivo deve conceder benefícios fiscais a quem nacionalizar componentes e veículos menos agressivos ao meio ambiente –sem limitações regionais.

E mesmo que o texto final não tenha saído como o esperado, as montadoras instaladas nas regiões Sul e Sudeste serão beneficiadas pela Reforma Tributária, que deve melhorar a rentabilidade. Contudo, é provável que não sejam tão lucrativas como as fabricantes instaladas no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste.

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