Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Volks acredita em carro mais barato com Reforma Tributária, mas teme perda de investimento externo

Inclusão de modelos só a combustão no texto gera renegociação com a matriz, diz CEO da empresa no Brasil

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A virada de última hora no artigo 19 da Reforma Tributária frustrou as expectativas de Volkswagen, GM e Toyota. As montadoras já estavam conformadas com a manutenção parcial dos benefícios tributários que reduzem os custos de produção nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, mas o resultado foi pior do que o esperado.

Pela proposta original, a prorrogação dos incentivos até 2032 seria limitada a modelos híbridos ou 100% elétricos. Na noite de terça (7), véspera da votação, os veículos flex tal e qual os fabricados atualmente foram incluídos.

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Pátio da montadora Volkswagen na unidade anchieta, em São Bernardo do Campo (ABC) - Danilo Verpa/Folhapress

"Aos 49 do segundo tempo, colocaram os carros a combustão", disse Ciro Possobom, presidente da Volkswagen do Brasil. O executivo explicou que a mudança prejudica todo o planejamento da montadora, que vem investindo bilhões de reais na adequação de seus carros a regras mais severas de controle das emissões de poluentes.

Caso fosse mantido como estava até terça, o texto da Reforma Tributária atenderia às necessidades da chinesa BYD, que vai produzir carros híbridos e elétricos em Camaçari (BA). Com a mudança, o grupo Stellantis volta a ser o principal beneficiado. A fábrica instalada em Goiana (PE) produz modelos flex e a diesel das marcas Fiat, Jeep e RAM.

Possobom estima que, apesar do maior gasto com logística, a produção da concorrente na região Nordeste permite uma redução de custos de aproximadamente 20% na comparação com a Volks e demais empresas instaladas nas regiões Sul e Sudeste.

"Não temos nenhuma posição contra incentivos para a região Nordeste, mas queremos que venham para novas tecnologias. Não foi correto da forma como foi feito, na prática é um incentivo gigantesco a uma empresa no Brasil em detrimento a todas as outras."

O presidente da Volkswagen do Brasil disse ainda que a empresa está perto de anunciar um novo ciclo de investimentos no país e com geração de novos empregos, mas que, com o deslocamento de benefícios para apenas uma região, os outros estados são prejudicados.

A preocupação é de que haja mudanças nos futuros aportes feitos pelo grupo Volkswagen no Brasil. Com a eletrificação em marcha nos principais mercados, há uma grande disputa global pelo dinheiro vindo da matriz.

As frequentes mudanças de regras e o cenário pouco atraente para investimento em novas tecnologias podem colocar o Brasil no fim da fila de prioridades da empresa.

Em agosto, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC afirmou que a montadora planeja um novo ciclo de investimentos no Brasil. A entidade afirmou que a proposta seria de adicionar 1 bilhão de euros (R$ 5,33 bilhões) ao ciclo atual, que estava previsto para terminar em 2026. O valor, se confirmado, será distribuído entre as quatro fábricas da montadora no país.

Nesta quinta (9), o sindicato divulgou que um acordo foi fechado com a fabricante, prevendo investimentos para produção de dois carros híbridos a partir de 2027 e criação de 111 novos postos de trabalho na engenharia. Outros 150 trabalhadores com contratos temporários (contratados em maio e setembro) seriam efetivados.

Em nota, a Volkswagen afirmou que s negociações sindicais ainda estão em andamento, com votação prevista para sexta (10) na fábrica de motores de São Carlos (interior de Sâo Paulo). "Tais negociações representam um passo importante na busca de acordos que beneficiem todas as partes envolvidas."

Possobom disse que o novo portfólio de produtos eletrificados da marca está sendo desenvolvido neste momento, mas que os entraves relacionados à legislação terão de ser apresentados à Alemanha.

Mas não se trata de um problema relacionado à totalidade da Reforma Tributária, mas, sim, específico do artigo que prorroga os benefícios que, hoje, são mais favoráveis ao grupo Stellantis.

Em uma visão positiva do futuro, Possobom afirmou que a mudança na cobrança de impostos vai possibilitar a redução no preço dos carros. "Permitindo o crédito fiscal como está sendo proposto, além de toda a simplificação tributária, [a Reforma Tributária] vai incidir no preço dos veículos." Não há, contudo, data para que isso ocorra.

Após a votação no Senado, a montadora alemã vai continuar trabalhando junto com GM e Toyota para tentar reverter o resultado entre os deputados federais. "Como é uma emenda nova, que ainda será julgada pelo Congresso, espero que consigamos ter algo mais adequado, com isonomia fiscal para todo mundo", afirmou o presidente da Volkswagen no Brasil.

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