Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Elio Gaspari
Descrição de chapéu Militares do Brasil

A anarquia militar de Bolsonaro prevaleceu

Uma vinheta de 1972, com um general e um sargento

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O vice-presidente Hamilton Mourão tocou num nervo sensível da política de hoje: a necessidade de se "evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças". Referia-se à escalafobética participação do general Eduardo Pazuello num palanque político, absorvida pelo comandante do Exército, abrindo um novo capítulo na história da anarquia militar, o da indisciplina bolsonarizada.

Não se pode prever a duração nem o desfecho dessa desordem.

Em 1964 o general Jair Dantas Ribeiro, ministro do Exército, foi ao comício de João Goulart no dia 13 de março. Ambos acreditavam que o governo se apoiava num dispositivo de oficiais e sargentos fiéis. (O general Castello Branco reconheceu-o, meio escondido, e mostrou sua surpresa ao colega Artur da Costa e Silva.)

É sabido que, quando a política entra nos quartéis por uma porta, a disciplina sai por outra. Ela sai aos poucos. No século passado, o dispositivo palaciano juntava oficiais e sargentos. Hoje, como na Venezuela e no último golpe boliviano, somam-se comandantes e oficiais de polícias. Piorou a anarquia.

Os repórteres Marcelo Godoy e Felipe Frazão mostraram que na indisciplina bolsonariana há um buraco mais embaixo.

No dia 4 de maio, um sargento da 15ª Brigada de Infantaria Motorizada participou de uma fala do deputado Major Vitor Hugo defendendo mudanças no sistema de promoções dos graduados. (Nada muito diferente do que fazia o capitão Jair Bolsonaro.)

O general Ernesto Geisel definiu Bolsonaro como "um mau militar" e seu rigor pelo respeito à disciplina militar remete a um episódio ocorrido em fevereiro de 1972.

O Brasil era presidido pelo general Emílio Médici e faltavam dois anos para o fim de seu mandato. Ele proibiria que a imprensa tratasse da sua sucessão.

Geisel estava na presidência da Petrobras e, num país de 100 milhões de habitantes, talvez fossem 500 as pessoas capazes de prever que ele seria o próximo presidente. Sabendo como seu nome vinha sendo costurado, não passavam de 50. Com intimidade para tratar do assunto com ele, talvez 20.

Para surpresa de Geisel, um sargento que havia sido seu motorista foi à sua casa para despedir-se e perguntou-lhe quando iria para Brasília.

— Ah, eu não vou — respondeu o general.

— Vai sim. O senhor vai ser presidente — informou o sargento.

Horas depois, Geisel contou a cena ao seu assistente, Heitor Ferreira, e expôs sua contrariedade:

— Quer dizer que [...] sargento também já está de novo se metendo nisso?

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