Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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A CPI expôs a caixa da PRF

A Polícia Rodoviária não era Federal, era pessoal

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A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a ação dos golpistas no 8 de janeiro expôs uma das maiores anomalias do governo de Jair Bolsonaro: o desvirtuamento da Polícia Rodoviária Federal. Sabia-se que no dia do segundo turno ela foi usada para bloquear eleitores nordestinos, sabia-se também que uma polícia rodoviária era usada em operações que resultaram em chacinas, mas a CPI mostrou mais.

O ex-capitão que prometia acabar com a indústria das multas e mandou desligar radares de rodovias elevou os gastos com a PRF de R$ 138 milhões durante a campanha para R$ 809 milhões em 2022. A PRF comprou veículos blindados e softwares de vigilância eletrônica.

Silvinei Vasquez, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, durante depoimento à CPI do 8 de Janeiro
Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, durante depoimento à CPI do 8 de Janeiro - Marcos Oliveira - 20.jun.23/Agência Senado

Uma mesma empresa, Combat Armor, venceu três pregões e faturou cerca de R$ 33 milhões. Em dois deles, era a única concorrente.

Criada em 2011, nos Estados Unidos, a Combat Armor ficou inativa entre 2013 e 2018, estabelecendo-se no Brasil em janeiro de 2019, dias depois da posse de Bolsonaro. Ela dizia ter uma tradição no ramo, tendo blindado mais de 5.000 veículos em 30 países. A CPI não achou registro desse desempenho. Seu principal executivo havia sido condenado por fraude no Dubai e tinha o nome na lista de procurados da Interpol. A Combat Armor brasileira fechou suas portas no primeiro semestre de 2023, depois da posse de Lula.

A Armor sabia escolher seus consultores. Em 2023, ela pagou R$ 39 mil à empresa do chefe de gabinete do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. Numa coincidência, essa empresa funcionava no mesmo endereço de Florianópolis de outras três. Duas delas receberam R$ 90 mil da Armor. A terceira, Victory Consultoria, pertence ao então diretor da PRF Silvinei Vasques. Noutra coincidência, todas têm o mesmo contador.

Numa das discutidas decisões monocráticas, o ministro Nunes Marques, do STF, suspendeu a quebra do sigilo bancário do doutor Silvinei Vasques.

Diz o relatório da CPI:

"Antes da decisão proferida pelo ministro Nunes Marques, do STF, [...] tinham sido constatadas informações muito relevantes no bojo da análise dos levantamentos de sigilo de Silvinei Vasques, inclusive com relação a Jair Bolsonaro. Contudo, em respeito à decisão judicial, embora com ela não se concorde, opta-se por não exibir todos os relevantes achados no presente relatório, mas se sugere que as autoridades policiais e judiciais competentes procedam à devida análise dos dados do levantamento de sigilo de Silvinei, para que possam aprofundar adequadamente as investigações".

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