Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Esper Kallás

A solução é prevenir com tecnologia

Sem uma vacina, anticorpo ou medicamento, ficaremos em xeque

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A pandemia de Covid-19 tem mostrado suas múltiplas faces. Além do risco maior para vulneráveis e idosos, já se sabe que a onda de infecções pode tomar rumos distintos, dependendo do país. Também é sabido que, após controlada a transmissão do novo coronavírus, os casos podem voltar a aumentar com o relaxamento das medidas de isolamento, como visto na Alemanha, Dinamarca e Coreia do Sul.

Não é exagero dizer que estamos mesmo em xeque.

Como solucionar a ameaça imposta pela pandemia? Enquanto não se dispõe de um tratamento acessível e altamente eficaz, o que parece difícil de conseguir, é preciso proteger a população. Solução inaceitável é aguardar o esgotamento das pessoas que podem ser infectadas. A sobrecarga no sistema de saúde, com a lotação das UTIs, e a alta taxa de mortalidade são um preço demasiadamente alto.

É preciso oferecer um escudo para que as pessoas não peguem o vírus naturalmente. Vejo três alternativas de medidas artificiais para provocar a proteção: uso de medicamentos, anticorpos protetores produzidos artificialmente e vacinas.

A prevenção de infecções pelo uso de medicamentos conta com exemplos bem-sucedidos —desde a proteção contra a malária, passando pela prevenção da meningite até a profilaxia da infecção pelo HIV (chamadas de PEP e PrEP), reconhecida como a intervenção mais efetiva para proteger populações mais vulneráveis.

Há alguns medicamentos candidatos. Ação antiviral efetiva, boa tolerância e efeitos colaterais raros são condições necessárias. Com tais premissas atendidas, ainda são necessários estudos para verificar se a droga realmente funcionará.

Outra alternativa seria o uso de anticorpos protetores. Vários grupos pelo mundo já descobriram anticorpos capazes de neutralizar o novo coronavírus. Uma das vantagens seria a possibilidade da alteração de diferentes características desses por engenharia genética, para fazê-los durar no corpo por semanas, meses ou até mesmo mais que um ano. Mas são necessários bons meses de pesquisa adiante para que se atinja esse o objetivo.

O sonho dourado, contudo, seria uma vacina eficaz. O objetivo final seria o mesmo: simular uma infecção sem causar doença para ensinar o organismo a se defender do novo coronavírus e produzir seus próprios anticorpos.

Atualmente, existem oito vacinas na fase de testes em humanos. Todas ainda estão em estágios iniciais, que verificam a segurança, a tolerância e a indução da resposta de defesa, especialmente pela formação de anticorpos. Usam diferentes abordagens, como vírus morto (inativado), material genético de uma parte do vírus (DNA ou RNA), partículas incompletas do vírus, outros vírus inofensivos que funcionam como “cavalo de Troia”, com um pedaço do novo coronavírus, para citar as principais. Além dessas, dezenas de outras vacinas estão em desenvolvimento.

No ritmo atual, uma segunda fase de testes com tais produtos deverá ser iniciada em torno de agosto de 2020, seguida pela terceira e última fase de testes, que definirá se a vacina funciona. E a resposta poderá vir antes do fim de 2020, um recorde na velocidade.

O Brasil precisa criar rapidamente uma estratégia para testes e acesso a uma vacina eficaz. Por um lado, a situação da pandemia no Brasil é extremamente preocupante, por estar em expansão. Por outro, esta expansão coloca as condições necessárias para testarmos a eficácia de vacinas.

Há uma necessidade urgente de agregar setores privados, públicos e filantrópicos. O investimento em vacinas deve ser prioritário como política de Estado. É hora de agir ativamente.

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