Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio

Negacionistas brincam de roleta-russa com a arma apontada para os outros

A brincadeira de Bolsonaro já matou quase 30 mil pessoas

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Não é de hoje que, diante de uma ameaça, o ser humano nega a realidade. Aconteceu em outras epidemias, como a varíola e a gripe espanhola. Mais recentemente, vieram os negacionistas climáticos e os terraplanistas que, involuntariamente cômicos, se dividem entre os que acreditam na Terra plana com cúpula e na sem cúpula, em um negacionismo do negacionismo.

Ilustração de uma mulher sentada no chão com o celular na mão. Há uma gosma verde em seu rosto e mãos que saiu do celular e alguns vírus com o símbolo do WhatsApp no ar
Galvão Bertazzi/Folhapress

Com o novo coronavírus, surgiu um grupo ainda mais perigoso, pois brinca de roleta-russa com a arma apontada para a cabeça dos outros —os negacionistas da pandemia.

Diferente de um Napoleão de Hospício, que fala sozinho, esse tipo se reúne com outros malucos em grupos de WhatsApp e Facebook. Sua principal fonte de informação são os próprios integrantes e suas experiências pessoais.

Como estão em constante negação, discutir com eles se torna uma tarefa impossível. Contestam fontes, instituições e, até mesmo, a comunidade científica. Para os negacionistas da pandemia, estão todos vendidos para a indústria farmacêutica ou têm planos secretos de domínio do planeta.

“O coronavírus foi criado pelo Bill Gates para vender sua vacina e implantar um chip para monitorar a população”, especula Rubens, comerciante e infectologista por hobby. Como se o fundador da Microsoft, mesmo estudando em Harvard, fosse capaz de criar um plano do nível de um vilão da “Sessão da Tarde”. E como se ele já não pudesse monitorar a população.

“O amigo do marido da minha prima é médico e disse que o hospital Albert Einstein está vazio. Quando vão parar de nos enganar?”, questiona a dona de casa Regina, sanitarista nas horas vagas. É mais fácil debater capacidade de leitos com a mãe do Jorginho do que telefonar para o hospital.

“A China espalhou o vírus para acabar com a economia de outros países e arruinar o capitalismo no mundo”, posta Caio, publicitário que se especializou em geopolítica pelo Instagram. Sim, a China, a mesma fabricante de carros, computadores e do celular que Caio usa para postar asneira, quer acabar com o capitalismo.

“Só fracos, doentes e idosos devem se preocupar”, diz Jair, ex-capitão expulso do Exército, ex-deputado irrelevante e atual presidente da República. Em plena pandemia, ele acredita que as maiores ameaças são os governadores e o STF. Essa roleta-russa de Bolsonaro já matou quase 30 mil pessoas.

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