São Paulo se despede do verão, mas o verão não quer sair de São Paulo. Na última semana, a cidade registrou as maiores temperaturas em ao menos 80 anos, com máxima de 34,7º.
Já a cidade do Rio de Janeiro registrou recorde de 62,3ºC, pela influência, principalmente, da crise climática.
O fim da estação decepcionou toda a região Sudeste, que aguardava um mês de março úmido, dando os primeiros sinais do outono.
Com exceção dos últimos dois dias, não se viu uma gota caindo do céu. Pelo contrário, mal saía de trás da serra, o sol castigava, sugando todo o amor do brasileiro pelo verão.
Muitos chegaram a questionar a música "Águas de Março". Não existe nem águas, muito menos chuva chovendo e fim da canseira, uma vez que fazer qualquer atividade em um calor de 38º esgota qualquer um.
O fato de o clássico de Tom Jobim não resistir ao tempo é um sinal de alerta. A crise climática não está acabando apenas com a vegetação, as calotas e a sanidade, está arruinando a MPB.
São inúmeras as canções brasileiras que falam sobre o tempo que não resistiram ao (péssimo) tempo.
Quando Djavan compôs "Nem um Dia", não imaginava que a frase "um dia frio, um bom lugar para ler um livro" envelheceria tão mal. Nunca mais houve um dia frio. E o único bom lugar para ler um livro é no ar condicionado.
"Passar uma tarde em Itapuã" era um ótimo conselho de Vinícius para termos um momento de contemplação. Com a previsão do tempo atual, é um convite para queimadura, melasma e desidratação.
O Rei Roberto Carlos parou de cantar a palavra "inferno" em suas músicas. Também terá que cancelar a frase "eu só quero que você me aqueça nesse inverno", pois nenhum brasileiro aceitaria mais tal despropósito.
Se Tim Maia estivesse vivo, não cantaria mais "quando o inverno chegar, eu quero estar junto a ti", pois a previsão da chegada da estação mais fria do ano é: nunca mais.
"Chove lá fora, e aqui tá tanto frio" também não faz mais sentido. Quase não chove, muito menos faz frio. Mais um erro da trajetória de Lobão.
Já a música "Pequena Eva", de Saulo Fernandes, acerta ao falar de um possível apocalipse. Só erra quando fala "Meu amor, olha só, hoje o Sol não apareceu". O sol não só apareceu como nos derreteu.
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