Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu Todas clima

Com o fim das águas de março, crise climática ameaça a MPB

Nem o clássico de Tom Jobim resiste ao clima

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São Paulo se despede do verão, mas o verão não quer sair de São Paulo. Na última semana, a cidade registrou as maiores temperaturas em ao menos 80 anos, com máxima de 34,7º.

Já a cidade do Rio de Janeiro registrou recorde de 62,3ºC, pela influência, principalmente, da crise climática.

O fim da estação decepcionou toda a região Sudeste, que aguardava um mês de março úmido, dando os primeiros sinais do outono.

Com exceção dos últimos dois dias, não se viu uma gota caindo do céu. Pelo contrário, mal saía de trás da serra, o sol castigava, sugando todo o amor do brasileiro pelo verão.

Muitos chegaram a questionar a música "Águas de Março". Não existe nem águas, muito menos chuva chovendo e fim da canseira, uma vez que fazer qualquer atividade em um calor de 38º esgota qualquer um.

A ilustração de Galvão Bertazzi mostra um compositor brasileiro tocando violão. Ele usa boininha e cabelo afro. Está de pernas cruzadas tocando seu instrumento e sentado num b banquinho. Mas toda a ilustração está em chamas, o chão, a cervejinha e o copinho estão pegando fogo. O próprio compositor está pegando fogo. Um passarinho em cima da sua  boina está em chamas. Atrás dele um sol escaldante.
Ilustração de Galvão Bertazzi para coluna de Flavia Boggio de 20 de março de 2024 - Galvão Bertazzi/Folhapress

O fato de o clássico de Tom Jobim não resistir ao tempo é um sinal de alerta. A crise climática não está acabando apenas com a vegetação, as calotas e a sanidade, está arruinando a MPB.

São inúmeras as canções brasileiras que falam sobre o tempo que não resistiram ao (péssimo) tempo.

Quando Djavan compôs "Nem um Dia", não imaginava que a frase "um dia frio, um bom lugar para ler um livro" envelheceria tão mal. Nunca mais houve um dia frio. E o único bom lugar para ler um livro é no ar condicionado.

"Passar uma tarde em Itapuã" era um ótimo conselho de Vinícius para termos um momento de contemplação. Com a previsão do tempo atual, é um convite para queimadura, melasma e desidratação.

O Rei Roberto Carlos parou de cantar a palavra "inferno" em suas músicas. Também terá que cancelar a frase "eu só quero que você me aqueça nesse inverno", pois nenhum brasileiro aceitaria mais tal despropósito.

Se Tim Maia estivesse vivo, não cantaria mais "quando o inverno chegar, eu quero estar junto a ti", pois a previsão da chegada da estação mais fria do ano é: nunca mais.

"Chove lá fora, e aqui tá tanto frio" também não faz mais sentido. Quase não chove, muito menos faz frio. Mais um erro da trajetória de Lobão.

Já a música "Pequena Eva", de Saulo Fernandes, acerta ao falar de um possível apocalipse. Só erra quando fala "Meu amor, olha só, hoje o Sol não apareceu". O sol não só apareceu como nos derreteu.

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