Gabriel Kanner

Presidente do Instituto Brasil 200, é formado em relações internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

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Descrição de chapéu Coronavírus Ásia

Como se iniciou a pandemia? Como evitaremos que aconteça novamente?

Relatório da Inteligência americana levanta novas suspeitas sobre a origem da pandemia na China

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Um ano e meio após o início da pandemia, a tese “oficial” sobre a origem do vírus continua sendo de que ele teria sido transmitido de forma natural de um morcego para um humano em um mercado de animais silvestres em Wuhan, na China. Porém, neste último domingo, novas informações publicadas pelo The Wall Street Journal podem indicar outra possibilidade sobre o início da pandemia.

Segundo um relatório da Inteligência americana, três pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan ficaram doentes em novembro de 2019 e procuraram ajuda hospitalar. Fontes próximas deste relatório confirmaram a informação. Não está claro exatamente quais foram os sintomas apresentados por estes pesquisadores.

O que se sabe é que eles trabalhavam em um laboratório de Wuhan que conduz pesquisas sobre o coronavírus em morcegos e outros animais silvestres, e adoeceram cerca de um mês antes das autoridades chinesas confirmarem os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus, em dezembro de 2019, também em Wuhan.

Outra informação importante publicada pelo The Wall Street Journal precede em alguns anos estes fatos recentes. Em 2012, em uma mina no sudoeste da China, houve um inesperado encontro entre trabalhadores e uma enxurrada de morcegos. Seis deles ficaram doentes, três morreram. Cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan foram chamados para investigar o caso e, após coletarem amostras dos morcegos na mina, identificaram vários novos tipos de coronavírus.

Desde a epidemia de 2002, também iniciada na China, o Instituto de Virologia de Wuhan faz pesquisas de vírus em animais silvestres, como é citado no próprio site do Instituto.

Conversei com uma fonte, sob condição de anonimato, que trabalha há 30 anos na área de saúde pública dos EUA, e que está atualmente no Department of Health and Human Services (Departamento de Saúde e Serviços Humanos). Ele levantou um questionamento fundamental em relação à ética de países que fazem pesquisas de patógenos que sequer existem entre humanos. Por que há países conduzindo este tipo de pesquisa? Por que não existem normas internacionais para a pesquisa de patógenos, assim como é feito com a bomba atômica?

Outro ponto importante que foi citado é a necessidade de um olhar estratégico para o futuro.

O que faremos se outra pandemia voltar a assolar o mundo? Quais serão as regras do jogo daqui pra frente? Quais são os possíveis cenários de crises sanitárias e econômicas, e o que a comunidade internacional fará para rapidamente estancar o problema caso ele volte a acontecer? Como será feita a comunicação para que fronteiras sejam fechadas o mais rápido possível? Por que não é feito um tratado internacional pela preservação da saúde pública?

São todas questões fundamentais que precisam ser amplamente debatidas pela comunidade internacional.

O que chama a atenção nesta história, além da óbvia suspeita de que o vírus possa ter sido transmitido para humanos em um laboratório, mesmo que de forma acidental, é a tentativa de diversos setores de abafar o simples questionamento sobre a origem da pandemia.

Estamos atravessando o mais grave problema em escala global desde a Segunda Guerra Mundial. Os efeitos sanitários, econômicos e psicológicos para a população mundial têm sido devastadores. Até o momento, 3,5 milhões de pessoas morreram de Covid-19. Países no mundo todo enfrentam graves crises econômicas com altíssimos níveis de desemprego. Diante deste cenário, qualquer pessoa minimamente inteligente se perguntará: como se iniciou este problema? Ele poderia ter sido evitado?

Muitas pessoas, ao se depararem com estes óbvios questionamentos, argumentam que a China é a principal parceira comercial do Brasil, e portanto não deveríamos levantar suspeitas sobre a origem da pandemia. Ora, esse argumento não faz o menor sentido. É fato que a China tem um peso econômico fundamental, não só para o Brasil mas para diversos países no mundo todo. Isso em nada altera o fato de que a população mundial tem o direito de saber como esta pandemia se iniciou e se ela poderia ter sido evitada.

Aqui podemos traçar um paralelo com as empresas investigadas no Petrolão. Todas elas inegavelmente têm um peso econômico relevante e são responsáveis por centenas de milhares de empregos. Portanto, após as devidas correções de rota e penalidades, elas devem continuar exercendo este importante papel em nossa economia. Isso não quer dizer que os controladores dessas empresas não deveriam ter sido investigados.

Existe uma crescente vontade entre as agências de inteligência e a comunidade científica de se fazer uma profunda investigação sobre a origem da pandemia. Precisamos não apenas saber sua origem, mas debater qual será a ética e as regras da comunidade internacional daqui para frente se quisermos evitar outro problema desta magnitude ao longo das próximas décadas. Resta saber se a comunidade diplomática terá coragem para colocar este debate na mesa, tendo em vista que a China não se mostra muito disposta a fornecer as respostas que estamos buscando.

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