Gabriel Kanner

Presidente do Instituto Brasil 200, é formado em relações internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

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Gabriel Kanner

O sertão precisa de um plano de desenvolvimento socioeconômico

Precisamos de uma estratégia para combater a extrema pobreza no Brasil

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Ao longo dos últimos meses tenho feito uma imersão no interior do Rio Grande do Norte. Sempre visitei Natal, desde a minha infância, e morei na cidade por um ano, mas conhecia muito pouco o interior do estado.

Tem sido uma experiência fascinante. Aos poucos fui me apaixonando por essa terra —pelo seu povo, pela sua cultura, pelas suas tradições, pela sua fé. Fui trabalhando em diferentes projetos na região e vislumbrando cada vez mais possibilidades de grande impacto socioeconômico. Fui, em cada uma das visitas, sonhando com um futuro diferente para essa região tão sofrida.

E estou cada vez mais convicto de que é possível provocar uma transformação no semiárido brasileiro. Aliás, não há outra alternativa. Essa é a única forma que o Brasil conseguirá reduzir sensivelmente seus índices de extrema pobreza. Parados não podemos ficar.

O clima predominante no sertão brasileiro é o semiárido, que tem como características baixa umidade do ar e pouca chuva (algumas regiões chegam a ficar até um ano sem chuva), o que provoca um clima seco. Entre os climas do Brasil, o semiárido é o mais quente, chegando a mais de 35ºC alguns dias. A região do semiárido no Brasil se estende por quase todo o Nordeste e o norte de Minas Gerais.

Produção de energia limpa do Parque eólico da Neoenergia no litoral do Rio Grande do Norte em Rio do Fogo/RN - Alex Régis - 27.mai.2021/ Folhapress

O mesmo tipo de clima existe em partes da América do Norte, África, Europa, Ásia e Oceania, mas uma informação chamou muito minha atenção: o Brasil tem o semiárido mais habitado do planeta, com 22 milhões de pessoas. Em nenhum outro lugar do mundo há tanta gente vivendo nessas condições climáticas. Por isso, não há como fugir desse tema.

Qualquer plano de desenvolvimento para o Brasil, de geração de prosperidade e combate à pobreza, inevitavelmente terá que focar boa parte de seus esforços no desenvolvimento da população que vive em nosso semiárido.

Há um certo preconceito, principalmente no Sul e Sudeste, em relação ao povo nordestino. São comuns piadas de que nordestino é preguiçoso e não gosta de trabalhar. Algumas pessoas inclusive atribuem a pobreza do Nordeste a essa pressuposição. O argumento é de que o Sul e o Sudeste têm uma cultura de trabalho mais forte, e por isso essas regiões conseguiram se desenvolver mais.

Hoje, após meses visitando essas regiões e trabalhando diretamente com o povo sertanejo, afirmo categoricamente que essa visão é totalmente falaciosa. Quem diz isso nunca pisou em uma propriedade rural no sertão e viu uma família suando sangue para tirar da sua terra o sustento do mês.

São verdadeiros heróis, que trabalham o dia todo debaixo de um sol escaldante. São exemplos de garra e determinação. São prova de que o povo brasileiro é forte, destemido e trabalhador, e muitas vezes só precisa de uma oportunidade para agarrar com unhas e dentes. São, acima de tudo, um povo de muita fé. Em cada município do interior, em cada conversa, as pessoas falam de Deus, algo que falta tanto em nossa sociedade moderna.


Considerando tudo isso, precisamos traçar um plano de desenvolvimento socioeconômico para o semiárido brasileiro. As frentes de trabalho com as quais tenho atuado são promissoras e altamente impactantes.

A indústria têxtil, principalmente o elo da costura, é uma atividade extremamente propícia para a região, já que não requer água no processo produtivo. A agropecuária também tem oportunidades fantásticas, através da produção do algodão, que também é utilizado na cadeia têxtil, e outros produtos como a palma forrageira (cactus típico do semiárido) e aloe vera (babosa), utilizados pelas indústrias farmacêutica e cosmética.

Além do desenvolvimento econômico, a educação das crianças e jovens também terá um papel imprescindível na transformação social dessas regiões. Conceitos como liderança e responsabilidade, integridade e ética, empreendedorismo, educação financeira, coragem, resiliência, entre outros, precisam começar a fazer parte do currículo das escolas públicas.

Temos, em nosso semiárido, os maiores bolsões de pobreza do Brasil. Temos também um povo trabalhador, ávido por oportunidades, e diversos projetos fantásticos que podem abrir o caminho em direção à prosperidade. Com muito trabalho e fé, tenho esperança de que chegaremos lá.

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