Giovana Madalosso

Escritora, roteirista e uma das idealizadoras do movimento Um Grande Dia para as Escritoras.

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Giovana Madalosso

Vem aí: Centenas de escritoras autografando juntas

Escrita feminina será celebrada e divulgada no próximo domingo (11), em São Paulo

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No próximo domingo (11), às 16h, centenas de canetas deslizarão por livros num autografaço coletivo, na Feira do Livro, em São Paulo. Atrás de cada esferográfica, haverá uma escritora e, em cada uma, o orgulho de ter protagonizado a história contada naquelas folhas de papel.

A história em questão começou há um ano, quando o Brasil viu uma imagem marcante, que virou capa deste mesmo jornal: no dia 12 de junho de 2022, 420 escritoras, com seus livros na mão, tomaram as escadarias do estádio do Pacaembu para registrar, em uma foto, a explosão da escrita feita por mulheres no Brasil.

O registro ganhou a mídia e as redes. E o movimento, batizado de Um Grande Dia para as Escritoras, ganhou a força de um grito preso na garganta. Naquele mesmo final de semana e nos meses seguintes, um total de 2.302 escritoras tomaram espaços públicos para fotos em 49 cidades do país e do mundo.

Autoras posam para foto no estádio do Pacaembu, em São Paulo, em ação do movimento Um Grande Dia para as Escritoras, realizado em junho de 2022 - Mariana Vieira Elek - 12.jun.22/Divulgação

Essas fotos, tiradas de Vitória a Boa Vista, de Londres a Bodocó, somadas a 58 textos de diferentes participantes, compõe o livro "Um Grande Dia para as Escritoras, autoras do Brasil mostram a cara" (Bazar do Tempo), que será autografado simultaneamente por essas canetas, não só em São Paulo, mas em outras cidades nas próximas semanas.

A obra traz para o leitor a oportunidade de conhecer uma literatura muito além do eixo Sudeste, ainda tão privilegiado nas publicações e premiações. Ou mesmo uma literatura feita nessa região, mas ainda pouco representada, e não por falta de talentos, como sugerem as fotos das escritoras negras no Bixiga (SP), das autoras da Rocinha (RJ) ou mesmo de diversas capitais, recheadas de artistas ainda desconhecidas posando ao lado de consagradas como Andrea del Fuego, Eliana Alves Cruz, Cida Pedrosa, Maria Valeria Rezende e Manuela D’Ávila.

O mais curioso é que o movimento não parou nem para o lançamento do seu próprio livro. Enquanto umas autografam aqui, outras dizem cheese acolá. Nessa mesma semana, os registros ganham uma nova dimensão: se até agora eram de autoras que escrevem em língua portuguesa, agora serão também de autoras que produzem em outras línguas, como aponta a foto marcada para o dia 3 de junho, nas escadarias do City Hall, em Sheffield, Inglaterra.

Com os flashes, dispara a pergunta: por que esse movimento se alastrou tanto? Como uma das organizadoras, eu posso afirmar que, além de celebrar e divulgar a escrita feita por mulheres, se alastrou por aquilo que produziu no peito das participantes.

No podcast narrativo que conta a história do Um Grande Dia para as Escritoras, a ser lançado em breve, Lenny Blue, uma autora negra com mais de dez textos publicados em antologias, conta que quase não foi a foto de São Paulo porque não se sentia escritora o bastante para isso.

Seu caso não é isolado: a síndrome de impostora foi relatada por grande parte das autoras, fortes o bastante para fazerem suas vozes vingarem no papel, mas não biônicas a ponto de escaparem de um sistema que sempre desqualificou a opinião feminina e de um país que não valoriza a cultura, deixando artistas mulheres sempre em situação vulnerável.

Nesse contexto, as fotos foram um convite para muitas baterem no peito com seus livros em punho, com seus manuscritos em punho ou mesmo com seus bloqueios criativos em punho e dizerem para si e para o mundo: sou escritora!

No próximo domingo, em São Paulo, elas estarão juntas para mais um momento marcante, pegando canetas e assinando embaixo da obra que produziram juntas e da escritora que fizeram de si apesar de tantas adversidades.

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