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Giovana Madalosso

Um grande dia na Rocinha

Apesar da divisão desigual de tarefas domésticas, as mulheres sempre escreveram

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Giovana Madalosso

Escritora, é autora de "Tudo Pode Ser Roubado" e "Suíte Tóquio" e colunista da plataforma de mudanças climáticas Fervura

Nesse sábado o olho da câmera vai brilhar na Rocinha. Inspiradas pelo movimento Um Grande Dia para as Escritoras, que fotografou 2.250 escritoras em 50 cidades do Brasil e do mundo, as autoras da comunidade e do entorno farão uma foto celebrando a explosão da escrita feita por mulheres ali e, indiretamente, em todo país.

Essa escrita não é de hoje. Apesar da divisão desigual de tarefas domésticas, as mulheres sempre escreveram. O que faltava e ainda falta é oportunidade, visibilidade e interesse das editoras e da mídia pela sua produção.

Para se ter ideia, três quartos dos romances publicados no país entre 1990 e 2014 são de autoria masculina. 95,1% desses autores são identificados como brancos. E de classes privilegiadas. Cenário que vem mudando, mas não o bastante. Se a cultura é a alma do sujeito coletivo, a nossa alma está muito mal representada.

Registro do movimento Um Grande Dia para as Escritoras, realizado em junho no estádio do Pacaembu - Mariana Vieira Elek - 12.jun.22/Divulgação

Por isso a foto de sábado é tão relevante. Organizada por Lindacy Menezes, Lívia Machado, pela poeta e produtora cultural Aline Chagas e pelo Sarau Ciranda, reunirá dezenas de escritoras publicadas e não publicadas. Entre elas, Raquel de Oliveira, negra, autora de "A Número Um", romance inspirado em sua trajetória como chefe do tráfico na Rocinha, atualmente em adaptação para o cinema. E a própria Lindacy, semianalfabeta, criada por uma prostituta, que correu atrás das letras e acabou por se tornar autora de vários livros de prosa e poesia, um deles publicado em Portugal.

Mais do que mostrar sorrisos merecidos, o que as escritoras vão mostrar é a garra para escrever mesmo sob as circunstâncias mais adversas e o esplendor de quem está produzindo as narrativas que o público quer ler.

O brasileiro está cansado de se ver num espelho distorcido, onde uma pequena parte do todo representa a sua imagem. Que a escrita periférica e feita por mulheres siga se ampliando e ocupe o espaço central que tanto merece. Veja as fotos no Instagram @grandediaescritoras. Os dados são da pesquisa de Regina Dalcastagnè (Unb).

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