Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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Gregorio Duvivier
Descrição de chapéu

Bolsonaro, o cavalão, tem o tipo de empáfia que só se alcança com mais de 1,8 m

O brasileiro, encurtado pela própria natureza, fica minúsculo quando quer ser gigante

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Todo canalha é magro, dizia Nelson Rodrigues. Queria concordar. Estou engordando. Mas discordo. Conheci gordinhos canalhas, mas baixinhos nunca.

O baixinho, até quando é chato, passa batido. Um chato comprido não termina nunca. Um mala de dois metros de altura estraga sua noite e pode estragar sua vida. O baixinho, quando chato, diverte.

Perceba como os altos são prolixos: Tolstói, Foster Wallace, Knausgard, Fidel Castro, todos gigantes que não conseguiam parar de falar. Os baixinhos —Nelson, Millôr, Chico, Vinicius— precisam de poucas palavras pra dizer um romance inteiro. Nossa música foi inventada por baixinhos (Carmen Miranda, Jorge Ben, João Gilberto) que ensinaram o mundo a cantar baixinho, marchinhas e outras músicas curtas. Daí a MPB: música popular baixinha.

E digo mais: nunca conheci um canalha que não fosse alto. Até porque o imbecil, quando não é enorme, fica parecendo. Atenção: não digo que todo alto seja um canalha. Conheço galalaus de ótimo coração. Tenho até amigos altos. Mas tem um tipo de empáfia que só se alcança depois do 1,80 metro.

O apelido de Bolsonaro, no Exército, era cavalão —nosso pior presidente da história recente tem 1,85 metro, bem acima da média nacional. Um sujeito que não fosse alto não teria essa empáfia. Reconheço nele a desfaçatez dos compridos, a jactância dos que cresceram demais. Um baixinho não desafiaria o vírus, um baixinho não negaria a vacina, até porque um baixinho, isso é sabido, não nega nada a ninguém.

Nosso segundo pior presidente ficava logo atrás de Bolsonaro na fila da altura. "Empertigado em seu 1,84 metro, parecia o mais alto de todos" —assim Mario Sergio Conti descreve Collor, em sua posse, em "Notícias do Planalto". Imitamos o amor dos americanos pela estatura —estatisticamente, o eleitor estadunidense prefere os varapaus. Todo presidente por lá tem mais de seis pés. Trump tem 1,90 metro. Não tinha como não ter.

Já nossos presidentes mais baixinhos foram Lula (1,68 metro) e Getúlio (1,63 metro). Goste ou não deles, também foram os mais populares. O baixinho, afinal, só quer ser gostado. O desfavorecido verticalmente está acostumado a conciliar. O baixinho não manda, negocia. Pede com jeitinho até conseguir.

Leônidas, Zizinho, Garrincha, Romário, todos tinham menos de 1,70 metro. Pelé, Tostão, Zico, nenhum passava de 1,75 metro. O Brasil, encurtado pela própria natureza, fica minúsculo quando quer ser gigante. Vira um colosso quando se assume baixinho.

Põe o país nas mãos de um baixinho que a gente voa.​

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