Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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Descrição de chapéu

Antonio Risério defende o racismo antibranco como um tio do zap

Nunca soube de ódio sistemático a brancos no Brasil mas com ele pode surgir

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Antonio Risério, à primeira vista, parece risível. Um intelectual que defende a existência de racismo antibranco, morando no Brasil, faz gargalhar. Pior: usa todas as ferramentas olavistas de argumentação. Prova seu ponto salpicando o texto de exemplos gringos, de orelhada, como um tio do zap que fez o curso online do Carluxo.

Combate organizações fantasma, como a "ordem-unida ideológica", que "manda fingir que nada aconteceu". Diz que devemos fugir ao "double standard", enquanto enche o texto de referências aos "armazéns do Brooklyn", ao New York Times, e à ABC, não o ABC paulista, mas a ABC americana. Talvez na American Broadcasting Company o racismo reverso esteja bombando. Não sei dizer porque não tá no meu pacote da Net.

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Publicada nesta terça, 18 de janeiro de 2022 - Catarina Bessell

Segundo ele, nas manifestações do Black Lives Matter, "podemos ouvir 'matem os judeus'". Sua única fonte pra essa frase foi um jornalista francês, que escreve de Paris, a 8.000 quilômetros das manifestações —de onde conseguiu ouvir aquilo que nenhum jornalista presente nas manifestações conseguiu.

A grande sacada do texto ele guarda pro final. "Os militantes pretos, assim como os pastores evangélicos, querem poder" —a frase poderia ter saído de um rico bêbado numa padaria do Leblon. Não dá nome a ninguém e faz uma acusação batida e despolitizada, porque óbvia: "eles só querem poder". Você queria que um militante quisesse o quê? Um lugar no céu? Um cartão C&A?

Risério deixa de ser risível quando a gente lembra que o negócio tá sério. Não estamos num armazém do Brooklyn. Por aqui, as cotas raciais estão sendo reavaliadas. Nossa única medida de reparação histórica por séculos de escravidão corre o risco de ir pelo ralo. Talvez por isso o autor finja debater o racismo americano —e não encare esse elefante na sala.

Risério não deveria ser nem risível nem sério, mas irrisório. A elevação de um ex-marqueteiro de retórica olavista à categoria de intelectual diz muito sobre privilégio branco.

Não podemos nos iludir: Risério não é desonesto por ser branco. Mas é por ser branco que ele consegue publicar suas desonestidades neste jornal.

O texto pode acabar funcionando como uma profecia autorrealizada. Nunca ouvi falar de um ódio sistemático a brancos, no Brasil, mas com esse tipo de coluna pode ser que surja.

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